O Observatório Vera C. Rubin, situado nos Andes chilenos, revelou suas primeiras imagens e vídeos em time-lapse nesta semana, marcando o início de uma revolução na astronomia observacional. Equipado com a maior câmera digital já construída para esse propósito, o observatório está prestes a iniciar uma missão de dez anos que promete transformar o modo como compreendemos o cosmos.
Combinando um telescópio único e uma câmera de 3.200 megapixels, o Rubin pretende catalogar 10 milhões de supernovas, identificar 20 bilhões de galáxias e rastrear milhões de asteroides e cometas. As imagens iniciais destacam o vasto campo de visão do instrumento e a profundidade de detalhes obtida. Entre os registros divulgados estão composições da nebulosa Trífida e da nebulosa da Lagoa, geradas a partir de 678 imagens captadas em apenas sete horas, além de panorâmicas do aglomerado de Virgem.
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ToggleMissão LSST: Um Marco Científico sem Precedentes
O levantamento Legacy Survey of Space and Time (LSST), que começa ainda em 2025, visa identificar 90% dos asteroides potencialmente perigosos com mais de 140 metros de diâmetro. Também permitirá a detecção de planetas, cometas interestelares e eventos transientes como supernovas.
O telescópio Simonyi Survey, com espelho de 8,4 metros e design de três refletores, oferece um campo de visão equivalente a sete luas cheias. Sua capacidade óptica, ou étendue, é a maior entre os telescópios terrestres. Com um ciclo de captura de imagens a cada 39 segundos, ele gerará cerca de 800 imagens por noite, cobrindo todo o céu do hemisfério sul a cada três ou quatro noites.
Esse ritmo permitirá o registro de eventos celestes em escalas de tempo variadas, um processo conhecido como astronomia de domínio temporal. Apenas no primeiro ano, os dados produzidos devem ultrapassar o volume acumulado por todos os observatórios anteriores.
Homenagem a Vera C. Rubin
Nomeado em honra à astrônoma que comprovou a existência da matéria escura, o observatório busca expandir sua contribuição ao estudar tanto a matéria quanto a energia escura. Também fornecerá informações valiosas sobre a evolução estelar e a dinâmica do universo em expansão.
Localizado no Cerro Pachón, a 2.700 metros de altitude no deserto do Atacama, o Rubin se beneficia de um dos céus mais limpos e secos do planeta, com excelente visibilidade do centro da Via Láctea e das galáxias-anãs conhecidas como Nuvens de Magalhães.
LSSTCam: Um Gigante da Astrofotografia
A câmera LSSTCam, com custo de US$ 168 milhões, é do tamanho de um carro e pesa mais de três toneladas. Suas imagens de 3.200 megapixels cobrem um campo de visão de 9,6 graus quadrados e podem preencher 378 telas 4K. Equipado com seis filtros ópticos, o sensor captura o espectro eletromagnético do ultravioleta ao infravermelho próximo.
Inteligência Artificial e Automção em Tempo Real
Com conexões de fibra óptica entre o Cerro Pachón e centros de dados na Califórnia, as imagens são transmitidas em segundos para supercomputadores. Algoritmos de inteligência artificial analisam as mudanças em tempo real e emitem alertas à comunidade científica em até dois minutos. Estima-se que o Rubin gere até 10 milhões de alertas por noite, superando qualquer telescópio anterior em eficiência de detecção.
Mais que Retratos Estelares
Segundo a Dra. Yusra AlSayyad, responsável pelo processamento de imagens, a astronomia tradicional fornecia apenas “retratos” estáticos do céu. O Rubin, com sua capacidade de criar vídeos time-lapse de década de duração, inaugura uma nova era de observação dinâmica e automatizada do universo.
O Papel das Supernovas
Entre os objetivos do LSST, o estudo das supernovas é central. Essas explosões estelares servem como marcadores de distância no universo e já foram cruciais para revelar a existência da energia escura nos anos 1990. Ao detectar milhões de supernovas, o Rubin irá aprofundar nossa compreensão sobre a expansão do universo e sobre as forças que moldam sua estrutura.
Conclusão
O Observatório Vera C. Rubin representa um salto tecnológico e científico sem precedentes. Projetado para a era dos grandes dados e da automação, ele transforma a astronomia em tempo real, ampliando nossas fronteiras de conhecimento. Ao capturar o céu como nunca antes, o Rubin não apenas honra o legado de Vera Rubin, mas também nos aproxima das respostas para os maiores mistérios do cosmos.