Disparidade Racial e de Gênero no Ensino Superior Brasileiro: Avanços e Desafios

Os dados do Censo 2022 de Educação, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a distribuição racial entre os formados no ensino superior brasileiro ainda apresenta grandes discrepâncias. Apesar do avanço no acesso ao ensino superior por parte da população preta e parda nos últimos 22 anos, as desigualdades persistem, tanto na distribuição por cor ou raça quanto nas diferenças de gênero em determinados cursos.

Predominância de brancos nos cursos mais valorizados

A pesquisa aponta que três em cada quatro formados em medicina no Brasil são brancos (75,2%), enquanto pardos representam 19,1% e pretos apenas 2,8%. Essa disparidade se repete em outras áreas de prestígio, como economia (75,2% dos formados eram brancos) e odontologia (74,4%).

Em contrapartida, cursos como serviço social apresentam maior diversidade racial, com 47,2% de formandos brancos, 40,2% de pardos e 11,8% de pretos. A área de formação de professores também se destaca, com 8,9% de pretos e 37,5% de pardos.

Gênero e formação acadêmica

As diferenças de gênero também são evidentes na escolha das carreiras acadêmicas. Em cursos tradicionalmente dominados por homens, como engenharia mecânica e metalurgia, 92,6% dos formados são do sexo masculino. Em ciência da computação, essa proporção chega a 79,6%. Já em cursos majoritariamente femininos, como enfermagem, 86,3% dos formados são mulheres, enquanto em serviço social esse índice sobe para 93%.

Crescimento da população preta e parda com ensino superior

O número de pretos e pardos com diploma universitário quintuplicou entre 2000 e 2022. Em 2000, apenas 2,1% dos pretos de 25 anos ou mais possuíam ensino superior completo. Entre os pardos, o índice era de 2,4%, e entre os brancos, 9,9%. Já em 2022, esses percentuais saltaram para 11,7%, 12,3% e 25,8%, respectivamente.

Segundo o analista de divulgação do IBGE, Bruno Mandelli Perez, esse crescimento está relacionado a diversos fatores, incluindo a expansão das universidades públicas, o crescimento do setor privado e a adoção de políticas públicas como o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) e o Programa Universidade para Todos (ProUni), além da Lei de Cotas, sancionada em 2012.

“A expansão da rede pública no interior do Norte e Nordeste, onde há maior concentração da população preta e parda, foi um fator importante. Também houve crescimento do setor privado, que conseguiu absorver mais alunos. Além disso, políticas de financiamento e bolsas de estudo facilitaram esse acesso”, explica Perez.

Apesar do avanço, os brancos ainda são maioria entre os formados no ensino superior, mantendo uma vantagem histórica em relação ao acesso a oportunidades educacionais e profissionais.

Educação indígena e desigualdades regionais

A população indígena ainda apresenta o menor nível de instrução do país. Entre os indígenas de 25 anos ou mais, apenas 8,6% concluíram o ensino superior, enquanto mais da metade (51,8%) não têm instrução ou possuem apenas o ensino fundamental incompleto.

As desigualdades regionais também se fazem presentes. A região Norte tem as menores taxas de frequência escolar do país, o que pode impactar o futuro acesso ao ensino superior. Fatores como infraestrutura escolar precária, dificuldades no transporte e falta de professores qualificados são desafios recorrentes enfrentados pelas populações dessas áreas.

Desafios para a equidade no ensino superior

Apesar do progresso na ampliação do acesso à educação superior para grupos historicamente marginalizados, os dados do IBGE mostram que a desigualdade racial e de gênero ainda persiste. Especialistas apontam que, além das políticas de ingresso, é fundamental investir em permanência estudantil, garantindo suporte financeiro, psicológico e acadêmico para os alunos que entram na universidade por meio de cotas e outros programas de inclusão.

A qualidade do ensino básico também desempenha um papel crucial, pois estudantes de escolas públicas, majoritariamente pretos e pardos, ainda enfrentam dificuldades para competir com alunos de escolas privadas em processos seletivos exigentes, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A equidade no ensino superior é um objetivo que exige políticas públicas contínuas e investimentos para garantir que a inclusão seja efetiva, e não apenas numérica. O futuro da educação no Brasil dependerá da capacidade do país de reduzir essas desigualdades e criar um ambiente acadêmico mais diverso e acessível a todos.

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