Método de alfabetização alemão divide opiniões no Brasil

 

Um método de alfabetização desenvolvido na Alemanha e vendido no Brasil tem gerado debate entre especialistas. A técnica, baseada na reprodução de filhos, promete ensinar às crianças a ler e escrever em apenas quatro meses. Os defensores apontam resultados expressivos, enquanto críticos alertam para possíveis limitações de interpretação e criatividade.

O que é o método IntraAct?

Criado pelos alemães Uta Streit e Fritz Jansen há mais de 30 anos, o IntraAct surgiu para auxiliar pessoas com dislexia, TDAH e autismo. A abordagem propõe a reprodução intensiva de pequenos grupos de letras para tornar a leitura automática.

A cada três semanas, os alunos repetem os sons de quatro letras específicas (como A, M, L e O) por 15 minutos, três vezes ao dia. Aos poucos, formar palavras simples até que todo o alfabeto seja apresentado em um período de quatro meses. O objetivo é fortalecer a consciência fonológica antes de expor as crianças a textos mais complexos.

Sucesso em Alta Floresta (MT)

O método foi implementado em Alta Floresta (MT) em 2022 e, segundo a Secretaria de Educação do município, a taxa de crianças alfabetizadas no 2º ano teria aumentado de 35% para 83%.

Entretanto, os dados do Indicador Criança Alfabetizada , do Ministério da Educação (MEC), mostram um cenário diferente: em 2023, apenas 53,5% dos alunos da rede pública local apresentaram conhecimentos adequados em língua portuguesa — um índice inferior à média nacional de 56%.

Críticas ao método

Especialistas em educação apontam que o IntraAct prioriza a memorização e a decodificação de palavras, mas pode comprometer a interpretação e a criatividade. Para Isabel Frade, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), “as crianças aprendem a reconhecer sílabas, mas não necessariamente a compreender o que leem”.

Além disso, a aplicação do método no Brasil exige a compra de materiais didáticos específicos, que custam mais de R$ 600 por aluno, o que levanta questionamentos sobre sua acessibilidade e previsões em larga escala.

Outro ponto de debate é a falta de contextualização. Crianças alfabetizadas pelo IntraAct aprendem primeiro a leitura mecânica para, só depois, lidar com textos reais. Para Elaine Vidal, professora da Universidade de São Paulo (USP), isso pode tornar a aprendizagem artificial: “Ler não é apenas decifrar códigos, mas tenha significado ao que está escrito”.

A visão dos defensores

Irene Duarte, responsável pela introdução do método no Brasil, defende que as críticas são infundadas. “O IntraAct foi desenvolvido para acelerar a aprendizagem da leitura e é eficaz. Em testes realizados, até crianças indígenas e alunos com deficiência intelectual conseguem acompanhar”, afirma.

Segundo seus criadores, a reprodução intensiva facilita a memorização e evita sobrecarga cognitiva, permitindo que as crianças desenvolvam fluência rapidamente. Eles também argumentaram que a leitura automatizada é uma etapa necessária antes da compreensão textual.

Um debate sem consenso

A discussão sobre o IntraAct faz parte de um debate maior entre métodos de alfabetização. Enquanto abordagens fônicas, como essa, enfatizam a decodificação de sons e sílabas, métodos analíticos priorizam o contato direto com textos e significados desde o início.

Independentemente do método adotado, os especialistas concordam que a raiz dos desafios na alfabetização brasileira vai além das técnicas utilizadas. A formação de professores, as condições de trabalho docente e a infraestrutura das escolas são fatores determinantes para o sucesso do ensino.

 

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