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ToggleApós anúncio de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, lista de isenções ameniza impacto e sinaliza espaço para negociações futuras
Na última quarta-feira, 30 de julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou oficialmente uma ordem executiva que impõe uma nova tarifa de importação de 50% sobre produtos provenientes do Brasil. A medida foi tomada antes do prazo final de 1º de agosto e gerou reações imediatas no mercado, principalmente pela gravidade do impacto anunciado. No entanto, uma lista de exceções divulgada em paralelo trouxe um certo alívio ao mercado brasileiro, já que 694 produtos foram poupados da alíquota mais alta.
Segundo comunicado da Casa Branca, a decisão foi motivada por questões que envolvem segurança nacional, interesses econômicos e relações diplomáticas. No texto oficial, o governo americano afirma que o Brasil adota “políticas, práticas e ações” que colocam em risco a economia e a política externa dos EUA.
Decisão é reflexo de tensão política e diplomática
O clima entre os dois países vinha se deteriorando desde o início de julho. No dia 9 de julho, Donald Trump notificou o governo brasileiro sobre a possibilidade de adotar novas tarifas, citando como justificativas:
- A condução do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de tentativa de golpe de Estado;
- A decisão da justiça brasileira de responsabilizar plataformas americanas por conteúdos postados por usuários;
- E a alegada balança comercial deficitária dos EUA com o Brasil — uma afirmação considerada incorreta por especialistas.
Esses elementos serviram de pano de fundo para justificar a imposição da nova tarifa de importação, embora analistas vejam motivação política clara nas ações do governo americano.
Isenções aliviam impacto e beneficiam setores estratégicos

Apesar da elevação da tarifa para 50%, o governo americano optou por poupar quase 700 itens, muitos deles entre os principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos. A lista de exceções foi recebida positivamente tanto pelo governo brasileiro quanto pelo mercado, uma vez que produtos de alto valor agregado e importância comercial ficaram de fora da taxação máxima.
Entre os produtos isentos, destacam-se:
- Produtos agrícolas e minerais
- Carvão e combustíveis sólidos
- Resíduos e derivados do petróleo
- Lubrificantes
- Combustíveis refinados
- Aeronaves e peças de aviação
- Veículos leves e autopeças
- Fertilizantes
- Ferro gusa
- Commodities energéticas
- Suco de laranja brasileiro
Essas isenções indicam que o governo americano levou em consideração o impacto bilateral da medida, poupando setores que atendem diretamente empresas dos EUA ou cujos produtos não possuem substitutos imediatos no mercado internacional.
Embraer e o setor de aviação ganham fôlego
A fabricante brasileira de aeronaves Embraer foi uma das empresas diretamente beneficiadas pelas isenções. Embora continue enfrentando uma tarifa residual de 10%, que já vigora desde abril, a exclusão dos componentes de aviação da nova alíquota de 50% representa um respiro importante para a companhia.
De acordo com o economista Robson Gonçalves, da FGV, a Embraer mantém contratos de longo prazo com empresas norte-americanas, e substituir seus produtos no curto prazo seria inviável.
“Muitos contratos já estão no pipeline da empresa. Cancelar isso agora seria um prejuízo tanto para a Embraer quanto para as companhias aéreas americanas que dependem de suas entregas”, explica Gonçalves.
Além disso, o UBS, em relatório recente, destacou que a empresa ainda enfrenta desafios, mas que a manutenção das isenções representa uma vitória diplomática e comercial parcial.
O suco de laranja brasileiro permanece competitivo

Outro destaque da lista de isenções foi o suco de laranja brasileiro, item altamente consumido nos Estados Unidos. O país é o segundo maior mercado comprador da bebida, e a manutenção das condições comerciais favorece produtores e exportadores do Brasil.
“O suco de laranja está enraizado nos hábitos dos americanos. Está presente desde o café da manhã até os restaurantes fast food”, lembra Gonçalves, da FGV.
A decisão de manter o produto fora da tarifa máxima demonstra a interdependência entre os mercados e o cuidado do governo dos EUA em evitar aumentos significativos nos preços internos de bens essenciais.
Perspectiva de diálogo e novas negociações
Apesar do cenário conturbado, a lista de exceções foi interpretada por especialistas como um sinal de disposição para o diálogo. Segundo o professor Gonçalves, essa abertura pode representar oportunidade para renegociações futuras, com possibilidade de revisão das tarifas impostas.
“Quando você vê uma lista com 694 produtos isentos, isso demonstra que ainda existe espaço para conversa. Não é uma porta fechada”, analisa.
O especialista em investimentos Bruno Shahini, da Nomad, também vê a notícia como parcialmente positiva, principalmente para investidores brasileiros que operam no setor exportador.
Setores ainda em alerta: proteína animal e café sob risco
Mesmo com a exclusão de diversos itens, alguns segmentos importantes da economia brasileira seguem fortemente impactados. É o caso da proteína animal e do café, que ficaram de fora da lista de isenções.
“Esses setores enfrentam agora um desafio logístico e financeiro. As tarifas travam os fornecedores locais, afetam o escoamento da produção e geram incerteza sobre contratos futuros”, explica Gonçalves.
A cadeia da carne bovina, por exemplo, é uma das que mais exportam para os EUA, e a imposição da tarifa pode levar à perda de competitividade no mercado internacional.
Impactos bilaterais e reações futuras
A imposição de tarifas de importação elevadas não afeta apenas o Brasil. O próprio mercado americano também deve sentir os reflexos da decisão. Muitos produtos brasileiros têm demanda consolidada nos EUA, e o aumento de preços pode afetar cadeias de produção locais, além de gerar pressão inflacionária em setores estratégicos.
Além disso, o movimento de Trump levanta questionamentos sobre os limites do protecionismo comercial, principalmente em um cenário de desaceleração econômica global e dependência crescente de insumos internacionais.
Conclusão: exceções revelam fragilidade e necessidade de diálogo
A decisão do governo americano de impor tarifas de importação de 50% ao Brasil representa um momento crítico na relação entre os dois países. No entanto, a lista de isenções sinaliza que, apesar do endurecimento, a porta para o diálogo continua aberta.
Para o Brasil, o desafio agora é reorganizar sua política externa comercial, intensificar o diálogo com os EUA e buscar novos mercados para compensar os impactos gerados. Já para as empresas, o momento exige estratégia, resiliência e inovação para lidar com as novas barreiras.