É comum vermos o governo utilizar projeções otimistas como a do FMI para inflar sua imagem perante a opinião pública. Entretanto, há uma grande diferença entre um crescimento técnico do PIB e um avanço real na qualidade de vida da população. O Brasil, ao contrário de países com desenvolvimento mais sustentável, não tem conseguido traduzir esse crescimento em melhorias concretas no cotidiano do cidadão comum.
Nos últimos anos, o que se viu foi um aumento da informalidade, estagnação salarial, inflação acima da meta em diversos períodos e um processo contínuo de desindustrialização. Mesmo com a previsão de 2,2% de crescimento em 2025, a economia brasileira permanece fragilizada por problemas estruturais que impedem a distribuição justa dos ganhos econômicos.
A concentração de renda, a baixa capacidade de investimento público e a escassez de políticas de longo prazo tornam qualquer avanço econômico momentâneo e superficial.
Crescimento para Quem? O Abismo Entre Indicadores e Realidade
Ao analisar os dados do FMI com mais profundidade, percebemos que a recuperação brasileira é extremamente desigual. Setores como agronegócio e serviços financeiros puxam o crescimento, enquanto a indústria de transformação continua encolhendo. Isso significa que o crescimento beneficia poucos e mantém muitos à margem da economia formal.
Além disso, o alto endividamento das famílias, a precarização das relações de trabalho e os cortes em programas sociais fundamentais criam um ambiente onde mesmo os pequenos avanços no PIB não resultam em melhorias reais na renda das famílias.
É importante questionar: o crescimento de 2,2% serve a quem? Os dados frios da macroeconomia muitas vezes mascaram a deterioração das condições de vida da população trabalhadora. E o governo, em vez de enfrentar essa realidade, opta por comemorações vazias e discursos triunfalistas.
A Comparação Regional: Brasil Fica para Trás na América Latina
A previsão do FMI revela que, mesmo com o crescimento projetado, o Brasil ficará atrás de vários países latino-americanos. Argentina 5,5% e México 2,4%, são alguns exemplos. Isso indica que o desempenho brasileiro está longe de ser motivo de comemoração.
O que esses países têm em comum? Políticas de incentivo à inovação, estabilidade regulatória, reformas estruturais e investimentos em capital humano. No Brasil, por outro lado, os entraves burocráticos, a instabilidade política e os interesses corporativos travam o progresso sustentável.
Essa comparação regional é incômoda para o governo, que insiste em usar o crescimento do PIB como troféu, enquanto outros países avançam com políticas mais consistentes e inclusivas.
A Falsa Recuperação do Poder de Compra
Enquanto o governo celebra a previsão de crescimento, milhões de brasileiros seguem sem conseguir encher o carrinho do supermercado. A inflação acumulada, especialmente nos alimentos e nos itens essenciais, corroeu o poder de compra da população. A recente queda no índice oficial de inflação não reflete a realidade sentida nas feiras, açougues e padarias.
Além disso, o salário mínimo reajustado não acompanha o custo de vida real. Mesmo com uma política de valorização nominal, o valor do salário continua insuficiente para cobrir despesas básicas de moradia, alimentação e transporte. A promessa de que o crescimento iria beneficiar os mais pobres se mostra, mais uma vez, uma peça de marketing político.
A concentração de renda permanece altíssima, e os benefícios do crescimento seguem nas mãos de uma minoria. Enquanto isso, programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida sofrem com contingenciamentos e cortes, dificultando ainda mais a inclusão econômica dos mais vulneráveis.
Política Fiscal e Juros Altos: Travando o Brasil
Outro obstáculo para transformar o crescimento em desenvolvimento está na condução da política fiscal. A meta de déficit zero, defendida por setores do governo, tem levado a cortes em investimentos públicos essenciais, inclusive em infraestrutura, saúde e educação. Essa política de austeridade disfarçada impede a criação de empregos e limita a capacidade do Estado de induzir o crescimento.
Além disso, o Brasil mantém uma das maiores taxas de juros reais do mundo. O Banco Central, apesar de ter iniciado uma leve queda na Selic, ainda freia o crédito e desestimula a produção. Em vez de utilizar a previsão de crescimento como impulso para reformas estruturais, o governo continua refém do mercado financeiro, priorizando o superávit e a confiança de investidores em detrimento das demandas sociais.
O resultado? Um país que cresce devagar, sem criar oportunidades e sem corrigir distorções históricas que impedem o progresso inclusivo.
A Instabilidade Política Ainda Pesa
Mesmo com algum otimismo externo, a instabilidade política doméstica segue como um dos maiores entraves ao avanço do país. Trocas constantes em ministérios-chave, disputas internas entre alas do governo e uma base parlamentar fragmentada impedem a aprovação de medidas realmente transformadoras.
Além disso, escândalos éticos e denúncias de corrupção continuam minando a credibilidade institucional, afastando investimentos e aprofundando a desconfiança no futuro da economia brasileira. A previsibilidade, fator essencial para o crescimento sustentado, permanece ausente do cenário político nacional.
Governos comprometidos com o próprio marketing não geram estabilidade. Sem diálogo real com a sociedade e sem planejamento de longo prazo, qualquer crescimento é passageiro — e arriscado.
Caminhos Ignorados Pelo Governo
O Brasil poderia crescer mais — e melhor — se priorizasse investimentos em educação básica, ciência e tecnologia, e reindustrialização com valor agregado. Entretanto, o governo opta por soluções imediatistas, como isenções pontuais e programas temporários, em vez de reformas estruturais.
Propostas como reforma tributária progressiva, incentivo à economia verde, ampliação do crédito para pequenas empresas e desburocratização do Estado seguem sendo ignoradas. O país continua preso a um modelo econômico atrasado, que não estimula inovação nem inclusão produtiva.
Em vez de liderar um projeto de nação, o governo celebra um crescimento medíocre como se fosse uma grande vitória.
Crescimento sem Direção é Caminho para o Abismo
A previsão de crescimento de 2,2% para 2025 feita pelo FMI pode parecer positiva, mas esconde mais problemas do que soluções. O Brasil cresce de forma desigual, sem corrigir as falhas históricas que perpetuam a pobreza e a desigualdade.
Sem enfrentar a crise estrutural do Estado, sem democratizar o acesso às oportunidades e sem garantir políticas públicas de longo prazo, o país continuará patinando. Crescer não basta. É preciso crescer com justiça, com distribuição e com planejamento.
Caso contrário, os discursos de recuperação continuarão soando falsos para quem, todos os dias, enfrenta filas no SUS, desemprego e salários que mal pagam o arroz com feijão.