O salário mínimo não é apenas um número na folha de pagamento: ele representa a base de sustentação para milhões de trabalhadores e famílias brasileiras. Em 2025, mesmo com um reajuste anunciado pelo governo, o Brasil amarga a 51ª colocação entre 105 países em termos de poder de compra do salário mínimo. Mais do que um dado estatístico, essa posição evidencia a falta de prioridade com as camadas mais vulneráveis da população e o distanciamento entre o discurso oficial e a realidade nas ruas.
Ranking Global: Brasil atrás de países com economias menores
Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil está atrás de países como Chile, Uruguai e até mesmo da Romênia quando se trata do poder de compra proporcionado pelo salário mínimo. Isso significa que um trabalhador brasileiro consegue comprar menos bens e serviços essenciais do que trabalhadores em países com economias bem menores e menos industrializadas.
Essa colocação se torna ainda mais vergonhosa considerando que o Brasil é a 9ª economia do mundo em Produto Interno Bruto por Paridade de Poder de Compra (PPC). O contraste revela um cenário perverso de concentração de renda, alta carga tributária sobre os pobres e políticas econômicas que privilegiam o capital em detrimento do trabalho.
Evolução recente do salário mínimo: Aumento abaixo da inflação real
O salário mínimo foi reajustado para R$ 1.518,00 em 2025 — um aumento de 7,5% em relação ao ano anterior. No entanto, esse reajuste está longe de representar um ganho real. Considerando a inflação acumulada nos alimentos, transporte, energia e habitação, o aumento real do poder de compra do trabalhador foi praticamente nulo.
O governo federal, em sua narrativa oficial, tenta vender o reajuste como um grande avanço. Mas a verdade é que não há um plano estratégico de valorização real do salário mínimo, apenas ações pontuais que não atacam as causas estruturais do empobrecimento da classe trabalhadora.
Custo de vida x salário mínimo: A matemática que não fecha
De acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo ideal para atender as necessidades básicas de uma família brasileira em 2025 deveria ser superior a R$ 6.500,00. Isso inclui alimentação, moradia, saúde, transporte, educação, vestuário, higiene e lazer.
Ou seja, o salário mínimo atual cobre menos de 22% do que seria necessário para uma vida digna, forçando milhões de pessoas a trabalhar em múltiplas jornadas, recorrer ao endividamento ou depender de programas de assistência social.
📊 Comparações internacionais que escancaram a desigualdade
País | Salário mínimo mensal (US$) | Posição no ranking |
Austrália | US$ 2.800 | 1º |
Alemanha | US$ 2.200 | 4º |
Chile | US$ 650 | 36º |
Brasil | US$ 285 | 51º |
Índia | US$ 80 | 88º |
Fonte: Organização Internacional do Trabalho (OIT), 2025
O contraste é gritante. Mesmo com uma economia mais desenvolvida e industrializada, o Brasil paga um salário mínimo muito inferior ao de países vizinhos ou com desafios econômicos similares. Isso mostra que não se trata apenas de capacidade econômica, mas de prioridades políticas.
Falta de prioridade: Governo ignora pauta trabalhista
O governo federal tem adotado um discurso populista quando fala em “valorização do trabalhador”, mas a realidade mostra o contrário. Reformas trabalhistas não revertidas, nenhuma proposta efetiva para a correção da tabela do Imposto de Renda e a manutenção de isenções fiscais para os mais ricos são sinais claros de que o trabalhador continua em segundo plano.
Além disso, a ausência de políticas públicas consistentes de geração de emprego formal empurra a população para a informalidade, onde não há garantia de salário mínimo, férias, 13º salário ou aposentadoria digna.
O que explica essa estagnação?
- Desindustrialização acelerada
- Baixa produtividade do trabalho
- Modelo tributário regressivo
- Dependência de commodities
- Desmonte de políticas sociais e trabalhistas
Esses fatores combinados formam um cenário em que a renda do trabalhador não acompanha a produtividade nem o crescimento da economia nacional, aumentando a desigualdade e perpetuando a pobreza.
O salário mínimo como símbolo do fracasso social
O lugar do Brasil no ranking global de poder de compra do salário mínimo não é apenas um indicador econômico, é uma acusação contundente contra a condução da política econômica dos últimos anos. A estagnação da renda, aliada ao custo de vida crescente, condena milhões de brasileiros à subsistência, enquanto o governo celebra reajustes insuficientes como se fossem vitórias históricas.
Se o Brasil deseja realmente crescer de forma sustentável e justa, é urgente retomar uma política de valorização real do salário mínimo, com foco em distribuição de renda, inclusão produtiva e combate à desigualdade.