Relação Brasil-Japão ganha destaque em meio a desafios geopolíticos
A recente visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão destacou a importância da relação bilateral entre os dois países, especialmente em um momento de instabilidade geopolítica global. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, afirmou que a parceria com o Brasil se torna “fundamental” diante dos conflitos e divisões no mundo.
Defesa do livre comércio e preocupação com protecionismo
Durante seu discurso em Tóquio, Lula se posicionou contra o protecionismo comercial, reforçando a necessidade do livre comércio para o desenvolvimento econômico global. Embora não tenha mencionado diretamente as novas tarifas anunciadas por Donald Trump, o presidente brasileiro alertou para os riscos de uma “nova Guerra Fria” entre Estados Unidos e China.
“Vamos continuar defendendo com muita força o livre comércio, que é a possibilidade maior da parceria entre países e do desenvolvimento mútuo”, afirmou Lula durante reunião com autoridades japonesas.
Lula também ressaltou que “o negacionismo toma conta da democracia” e alertou para a perda de força do multilateralismo frente ao avanço do autoritarismo.
Expansão comercial e acordos bilaterais
Na visita oficial, Brasil e Japão assinaram 10 acordos bilaterais e 80 cooperações em setores como agricultura, meio ambiente, ciência e tecnologia. Ishiba destacou o interesse em aprofundar as relações comerciais e elevar o acordo entre Japão e Mercosul a “patamares ainda mais altos”.
Um dos principais interesses brasileiros é a liberação da exportação de carne bovina para o mercado japonês. O primeiro-ministro japonês afirmou que serão enviados especialistas sanitários ao Brasil para avançar na negociação, mas não estabeleceu uma data para a inspeção.
Venda de jatos da Embraer
Outro destaque da visita foi o anúncio da venda de até 20 jatos E-190 da Embraer para a companhia japonesa All Nippon Airways (ANA). O contrato, avaliado em cerca de R$ 10 bilhões, prevê a entrega inicial de 15 aeronaves, com opção para mais cinco.
Durante o anúncio, Lula brincou: “Quem compra 20 pode comprar um pouco mais, e quem sabe todas as empresas japonesas podem voar de avião da Embraer”.
Interesses japoneses no Brasil
A visita também serviu para reforçar os investimentos japoneses no Brasil, que cresceram 31,6% entre 2014 e 2023, atingindo um estoque de US$ 35,2 bilhões. Especialistas apontam que o Japão busca diversificar seus investimentos devido às tensões comerciais com a China e à necessidade de fortalecer sua presença na América Latina.
Shuichiro Masukata, professor da Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio, destaca que o Japão perdeu espaço para a China na região e agora precisa reavaliar sua relação com o Brasil. “Com a ascensão da China e a instabilidade da ordem internacional liderada pelos EUA, o Japão precisa aproveitar essa oportunidade para fortalecer seus laços com o Brasil”, afirmou.
Tomoyuki Yoshida, do Japan Institute of International Affairs, reforça que empresas japonesas estão preocupadas com a desaceleração econômica da China e buscam novos mercados. “O Brasil é considerado um dos melhores parceiros do Japão para aprofundar nossa colaboração e manter a ordem internacional baseada em regras”, disse Yoshida.
Lula no Vietnã e Janja na França
Após sua agenda no Japão, Lula seguirá para o Vietnã, onde continuará a buscar parcerias comerciais e diplomáticas. Sua esposa, a primeira-dama Rosângela da Silva, Janja, não acompanhará o presidente na próxima etapa da viagem, pois embarcará para a França para discursar sobre desnutrição infantil no evento “Nutrition for Growth”, a convite do presidente francês Emmanuel Macron.
Em entrevista à BBC News Brasil, Janja esclareceu que sua chegada antecipada ao Japão foi para reduzir custos com passagens e hospedagem, e que sua permanência na residência do embaixador brasileiro ajudou na economia de recursos.
A visita de Estado ao Japão reafirmou a importância da parceria entre os dois países, especialmente em um cenário global de incertezas. O fortalecimento das relações comerciais, o incentivo ao livre comércio e a expansão de investimentos foram os principais temas abordados, sinalizando um caminho promissor para a cooperação Brasil-Japão nos próximos anos.