O universo das finanças corporativas passa por uma transformação acelerada em 2025. As chamadas empresas de tesouraria cripto estão se consolidando como um dos movimentos mais impactantes do mercado de capitais global. A estratégia? Levantar bilhões de dólares por meio de alavancagem, fusões e ofertas públicas, tudo para adquirir grandes quantidades de bitcoin e outros ativos digitais.
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ToggleO que são as empresas de tesouraria cripto?
As empresas de tesouraria cripto são companhias de capital aberto cujo modelo de negócios gira, majoritariamente, em torno da compra e manutenção de criptomoedas, principalmente o bitcoin. Essas organizações estão criando um novo caminho para investidores institucionais e de varejo que desejam exposição ao mercado cripto, mas sem a necessidade de operar diretamente em corretoras digitais, que ainda sofrem com riscos de hacks e instabilidades regulatórias.
MicroStrategy: o exemplo que desencadeou a tendência
Tudo começou com a estratégia ousada do bilionário Michael Saylor, fundador da MicroStrategy — agora rebatizada como Strategy. Desde 2020, a empresa investiu pesadamente em bitcoin, acumulando um dos maiores portfólios corporativos de criptoativos do mundo. Atualmente, a Strategy detém um volume superior a US$ 67 bilhões (R$ 367,83 bilhões) em bitcoin, consolidando-se como uma referência entre as empresas de tesouraria cripto.
Esse pioneirismo inspirou outras companhias a seguir o mesmo caminho.
O crescimento vertiginoso das tesourarias cripto em 2025
De acordo com a consultoria Architect Partners, liderada por Elliot Chun, mais de 30 novas empresas listadas em bolsa anunciaram, desde abril, a adoção de estratégias semelhantes. Juntas, essas companhias miram uma captação superior a US$ 19 bilhões (R$ 104,31 bilhões) para investir em criptoativos.
Um dos casos mais emblemáticos ocorreu na semana passada, quando o Trump Media and Technology Group, responsável pela rede social Truth Social, anunciou a arrecadação de US$ 2,3 bilhões (R$ 12,63 bilhões) por meio da venda de ações e notas conversíveis. Esse foi um dos maiores movimentos de tesouraria em bitcoin até hoje.
Além disso, o bilionário Justin Sun, fundador da plataforma Tron, revelou recentemente a abertura de capital da empresa nos Estados Unidos através de uma fusão reversa com a SRM Entertainment, listada na Nasdaq. Como parte da transação, a Tron planeja injetar até US$ 210 milhões (R$ 1,15 bilhão) em tokens TRX.
Alavancagem e fusões: os motores dessa nova onda
Grande parte do crescimento das empresas de tesouraria cripto se deve ao uso intenso de alavancagem financeira. As companhias estão emitindo dívida conversível, vendendo novas ações e realizando fusões reversas para acelerar o processo de aquisição de criptoativos.
Como a alavancagem influencia os lucros?
A alavancagem potencializa os ganhos quando o preço do bitcoin sobe. No entanto, ela também aumenta os riscos em caso de quedas abruptas do mercado cripto. Essa característica tem atraído o interesse de fundos hedge e operadores de opções, que buscam alta volatilidade para maximizar seus retornos.
Jeff Park, chefe de estratégias alpha da gestora Bitwise, resume bem o cenário:
“Hoje, muitos investidores querem exposição ao risco cripto de forma regulamentada e dentro dos seus mandatos de investimento. As empresas de tesouraria cripto estão oferecendo exatamente isso: veículos acessíveis e listados em bolsa para esse fim.”
Casos de sucesso: empresas que dispararam com a adoção da tesouraria cripto
Os exemplos de valorização são impressionantes:
Janover, que migrou para uma estratégia focada em Solana, subiu mais de 5.300% desde abril, após se rebatizar como DeFi Development Corporation.
Metaplanet, uma rede hoteleira japonesa que passou a investir em criptos, acumula uma alta de 472% no ano.
A própria Strategy, de Michael Saylor, valorizou 30% apenas em 2025 e registra um acumulado de 3.000% nos últimos cinco anos.
Oportunidade para investidores institucionais e individuais
O grande diferencial das empresas de tesouraria cripto é que elas permitem a investidores de diversos perfis ganharem exposição ao mercado de bitcoin sem precisar enfrentar as complexidades do armazenamento e negociação direta dos ativos.
Além disso, o fato de estarem listadas em bolsas importantes como Nasdaq e NYSE confere uma camada adicional de segurança e regulação, tornando-as atrativas para fundos institucionais, fundos de pensão e até mesmo investidores de varejo.
Fusões reversas: o atalho das novas entrantes
Como os IPOs tradicionais são demorados e custosos, muitas dessas empresas estão adotando fusões reversas para acessar rapidamente o mercado de capitais. Um exemplo recente é a Twenty One Capital, apoiada pela Tether e pela SoftBank, que está se fundindo com uma afiliada da Cantor Fitzgerald em uma transação avaliada em US$ 3,6 bilhões (R$ 19,76 bilhões).
Outro caso notável envolve a Strive Asset Management, de Vivek Ramaswamy, que se fundiu com a Asset Entities, uma empresa de mídia digital, para implementar sua estratégia de compra de bitcoin.
Após o anúncio, as ações da Asset Entities saltaram de US$ 0,60 (R$ 3,30) para US$ 13 (R$ 71,54), antes de recuar para US$ 5,42 (R$ 29,83) — demonstrando a forte volatilidade desse novo segmento.
Euforia ou bolha?
Apesar do otimismo, muitos especialistas alertam para os riscos. Jeff Park, da Bitwise, destaca que parte dessa euforia ainda não reflete resultados concretos de longo prazo.
“Não vimos uma exploração agressiva do lado esquerdo do balanço dessas empresas, ou seja, elas ainda não demonstraram como pretendem gerar rendimento sustentável com o bitcoin que estão acumulando.”
Além disso, o movimento dessas companhias está provocando um efeito de escassez de bitcoin no mercado. Isso pode contribuir para novas altas nos preços, mas também amplia os riscos de bolhas especulativas.
GameStop: o símbolo das ações meme agora mira o bitcoin
Outro caso curioso é o da GameStop, famosa pelas “ações meme” de 2021. A empresa levantou mais de US$ 3 bilhões (R$ 16,47 bilhões) em dívida conversível para iniciar uma estratégia de tesouraria em bitcoin. Já foram investidos US$ 500 milhões (R$ 2,75 bilhões) em criptoativos, mas os detalhes sobre como pretendem obter retorno ainda são escassos.
Segundo Elliot Chun, da Architect Partners:
“Estamos presenciando uma verdadeira aula de MBA em estruturas de capital aberto: ações diretas, PIPEs, notas conversíveis, ATMs… É engenharia financeira em estado puro.”
O que esperar para o futuro das empresas de tesouraria cripto?
O crescimento explosivo desse novo modelo ainda levanta debates entre analistas. Enquanto alguns enxergam uma revolução financeira legítima, outros alertam para um possível novo inverno cripto, caso o mercado entre em colapso.
Para investidores, o cenário é de oportunidade e risco em igual medida. Quem decidir investir nessas empresas de tesouraria cripto deve estar preparado para fortes oscilações e, acima de tudo, manter uma estratégia bem fundamentada.