Esporte Feminino Bate Recordes, Mas Atletas Ainda Não Entram na Lista dos Mais Bem Pagos

Apesar dos avanços conquistados nos últimos anos, a desigualdade entre homens e mulheres nos esportes ainda é gritante quando se fala em faturamento. A lista dos atletas mais bem pagos do mundo segue sendo dominada por homens, mesmo com o crescimento exponencial da audiência e da receita gerada por modalidades femininas. Em 2024, essa disparidade ficou ainda mais evidente com os números apresentados pela revista Forbes. Nenhuma mulher conseguiu alcançar a cifra mínima exigida para integrar o seleto grupo dos 50 maiores faturamentos do esporte global.

Neste artigo, vamos analisar os motivos por trás dessa ausência feminina entre os atletas mais bem pagos do mundo, compreender como o mercado de patrocínios está reagindo, observar os desafios estruturais das ligas femininas e, sobretudo, destacar as conquistas individuais de atletas que, mesmo fora do topo da lista, estão transformando o cenário com seus resultados dentro e fora das competições.

Coco Gauff: A mulher com maior faturamento no esporte em 2024

Coco Gauff, uma das jovens promessas do tênis mundial, conquistou em 2024 o título de atleta feminina com maior faturamento do ano. Com apenas 21 anos, a tenista americana arrecadou um total impressionante de US$ 34,4 milhões, somando premiações e contratos publicitários. Mesmo assim, esse valor ainda está cerca de US$ 20 milhões abaixo do corte necessário para entrar na lista dos 50 atletas mais bem pagos do mundo.

Durante o ano, Gauff conquistou US$ 9,4 milhões em prêmios e incrementou consideravelmente sua renda fora das quadras, atingindo a marca de US$ 25 milhões em patrocínios. Marcas como Carol’s Daughter, Fanatics e Naked Juice passaram a integrar seu portfólio, que agora conta com 11 empresas parceiras. Ainda assim, sua ausência no ranking principal expõe uma dura realidade: o sucesso no feminino raramente é suficiente para competir com os gigantes financeiros do esporte masculino.

A comparação com outras estrelas femininas

Embora os números de Gauff sejam expressivos, eles ainda ficam atrás dos picos alcançados por Naomi Osaka e Serena Williams. Em 2021, Osaka registrou um faturamento de US$ 57,3 milhões, enquanto Serena chegou aos US$ 45,9 milhões. Ambas superaram a marca que hoje representa o piso para entrar entre os atletas mais bem pagos do mundo — o qual, em 2025, atingiu impressionantes US$ 53,6 milhões.

Esse corte mínimo representa um aumento de 19% em relação ao ano anterior, quando eram exigidos US$ 45,2 milhões. Em uma década, o valor mais que dobrou, evidenciando o crescimento acelerado da elite esportiva em termos de receita, impulsionado, principalmente, pelos contratos de transmissão e direitos comerciais nas ligas masculinas.

A ausência feminina na lista dos atletas mais bem pagos do mundo

Pelo segundo ano consecutivo, nenhuma mulher figura entre os 50 atletas mais bem pagos do mundo. A última a aparecer na lista foi Serena Williams, em 2023, marcando sua sexta participação em nove anos. Desde 2012, apenas quatro mulheres conquistaram espaço nesse ranking: além de Serena, entraram Naomi Osaka, Maria Sharapova e Li Na, todas tenistas.

Entre 2017 e 2019, nenhuma atleta do sexo feminino apareceu na lista. E mesmo com o fortalecimento de figuras como Caitlin Clark, Simone Biles, Sabrina Ionescu e Eileen Gu, os valores arrecadados por elas ainda não são suficientes para competir com os números apresentados por estrelas do futebol, basquete, beisebol e boxe masculino.

Por que os homens dominam a lista dos atletas mais bem pagos do mundo?

A principal explicação para essa desigualdade está na estrutura das ligas e nas receitas geradas por direitos de transmissão. Em outras palavras, os salários e prêmios oferecidos estão diretamente ligados ao que os campeonatos conseguem faturar com contratos televisivos, patrocínios e bilheteria. E, nesse quesito, as ligas masculinas continuam liderando com ampla vantagem.

Mesmo com avanços notáveis, como o crescimento de 74% nas receitas de transmissão previstas para os esportes femininos em 2025 (atingindo US$ 590 milhões), os números ainda são pequenos em comparação com os US$ 6,9 bilhões da NBA. A WNBA, por exemplo, viu suas receitas médias com mídia triplicarem, alcançando US$ 200 milhões por ano, mas isso ainda é insuficiente para competir com os gigantes do esporte masculino.

O caso de Caitlin Clark e Victor Wembanyama

Para ilustrar ainda mais a disparidade, basta comparar os rendimentos de dois nomes em ascensão: Caitlin Clark e Victor Wembanyama. Clark, estrela do basquete feminino, receberá pouco mais de US$ 150 mil por temporada em seus primeiros dois anos na WNBA. Em contrapartida, Wembanyama, escolhido como número 1 no draft da NBA, faturou quase US$ 25 milhões no mesmo período.

Esse contraste não se limita ao basquete. Em outras modalidades, como o futebol e até o tênis, as diferenças também se fazem presentes, especialmente fora dos grandes torneios. Apesar de os Grand Slams oferecerem prêmios iguais, as competições menores ainda refletem disparidades salariais profundas.

Perspectivas de mudança na WNBA e na NWSL

As jogadoras da WNBA estão pressionando por mudanças e optaram por não renovar o atual acordo coletivo, que expira no fim de 2025. Há expectativa de que o salário máximo possa saltar para US$ 1 milhão por temporada, ante os atuais US$ 250 mil. No entanto, esse valor ainda seria inferior ao salário mínimo da NBA, de US$ 1,2 milhão.

A NWSL, liga americana de futebol feminino, enfrenta um desafio semelhante. Com a adoção de um novo modelo de contratações e a eliminação do draft, os clubes ainda precisam operar com um teto salarial de US$ 3,3 milhões para todo o elenco, valor que deverá subir para US$ 5,1 milhões até 2030. Mesmo assim, o sindicato das jogadoras não poderá renegociar esse limite até o fim do atual acordo coletivo, em 2030.

O crescimento das receitas nos esportes femininos

Apesar dos obstáculos, os esportes femininos vêm registrando crescimento recorde em receitas comerciais e visibilidade global. A Deloitte estima que em 2025 os esportes femininos de elite alcançarão US$ 2,35 bilhões em receita mundial, contra US$ 1,88 bilhão em 2024 e US$ 981 milhões em 2023.

Do total arrecadado, cerca de 54% virá de patrocínios e contratos comerciais, sinalizando o crescente interesse de marcas em associar seus nomes a ligas e atletas femininas. Empresas de grande porte estão percebendo que as mulheres no esporte têm alto engajamento com o público, além de representarem valores como diversidade, superação e inclusão.

Patrocínios individuais em ascensão

As empresas não estão apenas patrocinando ligas e clubes, mas também investindo diretamente em atletas. A patinadora e esquiadora Eileen Gu, por exemplo, faturou US$ 22 milhões fora das pistas em 2024. Simone Biles, referência na ginástica artística, arrecadou US$ 11 milhões, enquanto Caitlin Clark fechou contratos com gigantes como Nike, Wilson e State Farm, acumulando US$ 8 milhões em rendimentos publicitários.

Sabrina Ionescu, armadora do New York Liberty, também se destacou com um modelo exclusivo de tênis da Nike, usado até por jogadores da NBA. Seu faturamento com patrocínios e negócios chegou a US$ 6 milhões, superando o que muitos atletas do top 50 arrecadam fora das competições.

A média de faturamento das atletas mais bem pagas

Embora nenhuma mulher esteja na lista dos 50 atletas mais bem pagos do mundo, as 20 atletas femininas com maior faturamento registraram uma média de US$ 10,7 milhões em 2024. Esse valor representa um aumento em relação aos US$ 8,5 milhões de 2023 e mostra que, aos poucos, a maré começa a virar.

Importante destacar que 17 dessas 20 atletas têm menos de 30 anos, o que significa que ainda estão em fase de ascensão e têm potencial para aumentar seus ganhos nos próximos anos. Com o apoio certo e investimentos consistentes, é possível que mais mulheres se aproximem ou até ingressem no ranking principal em um futuro próximo.

Conclusão: ainda há muito caminho a percorrer

A ausência de mulheres entre os atletas mais bem pagos do mundo é um reflexo direto das estruturas desiguais de financiamento, visibilidade e valorização nos esportes. No entanto, o crescimento contínuo das receitas, o aumento do interesse comercial e a ascensão de novas estrelas femininas indicam que estamos diante de uma transformação gradual, mas consistente.

Se ligas, patrocinadores e mídia continuarem apostando na profissionalização e valorização dos esportes femininos, é apenas uma questão de tempo até que vejamos mais mulheres ocupando espaço na lista dos atletas mais bem pagos do mundo — não como exceções, mas como protagonistas.

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