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ToggleA ciência espacial acaba de alcançar mais um feito impressionante. A Agência Espacial Europeia (ESA) revelou as primeiras imagens de um eclipse solar artificial criado em órbita terrestre. A conquista faz parte da missão inovadora Proba-3, que utiliza dois satélites voando em formação precisa para bloquear a luz do Sol e permitir o estudo detalhado da coroa solar — aquela camada brilhante e enigmática que envolve o astro-rei.
Como funciona o eclipse solar artificial da Proba-3?
Lançada em 5 de dezembro de 2024, a partir da Índia, a missão Proba-3 tem duração prevista de dois anos. Durante esse período, um eclipse solar artificial será recriado por até seis horas a cada órbita de 19,6 horas. Isso significa que, ao contrário dos eclipses solares naturais — que ocorrem apenas uma ou duas vezes ao ano e duram poucos minutos —, os cientistas poderão observar a coroa solar por um tempo muito mais prolongado e de maneira recorrente.
Segundo Andrei Zhukov, investigador principal do instrumento ASPIICS, no Observatório Real da Bélgica:
“Nossas imagens do eclipse artificial são comparáveis às obtidas durante um eclipse natural. A grande diferença é que podemos criar nosso próprio eclipse a cada órbita, com muito mais duração.”
A tecnologia por trás do eclipse solar artificial
A mágica por trás desse eclipse solar artificial é fruto de engenharia de precisão. Dois satélites trabalham em perfeita sincronia:
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Occulter: Um satélite que atua como uma “lua artificial”, equipado com um disco de 1,4 metro de diâmetro para bloquear a luz direta do Sol.
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Coronagraph: Um segundo satélite posicionado exatamente 150 metros atrás, responsável por captar as imagens da coroa solar.
Essa configuração cria uma sombra de apenas 8 centímetros de largura, que atinge o sensor de imagens do Coronagraph, simulando de forma fiel um eclipse solar total.
A missão segue uma órbita altamente elíptica, com altitude variando de 600 km no ponto mais próximo (perigeu) a impressionantes 60.000 km no ponto mais distante (apogeu). Essa trajetória permite que os satélites operem de forma autônoma e mantenham a formação necessária para gerar o eclipse.
Por que estudar a coroa solar é tão importante?
A coroa solar é a camada externa da atmosfera do Sol, com temperaturas que ultrapassam os 2 milhões de graus Fahrenheit (cerca de 1,1 milhão de graus Celsius) — muito mais quente que a própria superfície solar.
Compreender essa região é fundamental para os cientistas, pois é da coroa que se originam o vento solar e o clima espacial, fenômenos que têm impacto direto sobre os sistemas de comunicação, navegação por satélite, redes elétricas e até mesmo a segurança de astronautas em missões espaciais.
Além disso, a observação prolongada da coroa, só possível com o eclipse solar artificial, pode ajudar a entender melhor os mecanismos de ejeção de massa coronal e as tempestades solares que afetam a Terra.
Como as imagens do eclipse solar artificial são produzidas?
As imagens divulgadas pela ESA foram processadas pelo Centro de Operações Científicas do ASPIICS, localizado no Observatório Real da Bélgica. Cada registro visual é, na verdade, o resultado da combinação de três exposições diferentes, feitas com variações no tempo de abertura do coronógrafo.
Zhukov explica o processo:
“Cada imagem completa — que vai do Sol ocultado até a borda do campo de visão — é construída a partir de três imagens. A diferença entre elas é apenas o tempo de exposição, que determina a quantidade de luz captada. A junção das três dá a visão completa da coroa solar.”
Acesso livre aos dados da missão
Seguindo sua política de ciência aberta, a ESA disponibiliza todos os dados e imagens do eclipse solar artificial em um portal online. Tanto cientistas quanto entusiastas de astronomia podem acessar os materiais, que ainda passarão por calibrações posteriores para aprimorar a qualidade final.
Quantas horas de observação serão geradas?
Durante os dois anos de missão, a ESA estima coletar cerca de 1.000 horas de imagens da coroa solar, um volume de dados sem precedentes para pesquisas nessa área.
Quando o propelente dos satélites da Proba-3 acabar, o plano é que ambos sejam desorbitados e queimem na atmosfera da Terra, encerrando sua jornada de maneira segura e controlada.
Um avanço para a ciência espacial
O sucesso desse eclipse solar artificial marca um avanço significativo na capacidade humana de realizar experimentos espaciais altamente controlados. A missão Proba-3 abre caminho para futuras operações científicas baseadas em formações de satélites, um conceito que poderá ser utilizado em diversas outras áreas, como a observação de exoplanetas e o monitoramento de asteroides.
Além disso, a experiência adquirida com a missão Proba-3 pode servir de base para o desenvolvimento de tecnologias de proteção contra o clima espacial, um tema que ganha cada vez mais relevância diante da crescente dependência global de satélites para comunicação, navegação e monitoramento ambiental.
Conclusão: um novo capítulo na exploração solar
Com as primeiras imagens do eclipse solar artificial, a ESA dá um passo histórico na observação do Sol. O projeto Proba-3 demonstra que, com tecnologia de ponta e engenharia de precisão, é possível superar as limitações impostas pela natureza e criar condições ideais para a ciência.
Agora, o mundo aguarda ansiosamente pelas próximas imagens e descobertas que essa missão inovadora ainda trará.