Sumário
ToggleO cenário da política migratória dos Estados Unidos experimentou uma transformação radical e acelerada com o retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro de 2025. Dados compilados revelam que o país registrou um aumento substancial nas deportações de cidadãos latino-americanos, marcando uma intensificação das ações governamentais contra imigrantes sem documentos em diversas esferas da vida nacional.
A experiência pessoal de Leonel Chávez ilustra o impacto dessas políticas. Capturado em meados de agosto de 2025 por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) enquanto se dirigia ao trabalho na construção civil, juntamente com seu irmão Ricardo, Chávez foi subsequentemente deportado para Puebla, no México. Para ele, a separação da esposa e dos três filhos, todos nascidos nos Estados Unidos, é descrita como um “pesadelo” constante. Embora o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) tenha confirmado a deportação de Chávez, afirmando que os agentes agiram conforme o treinamento e usaram força mínima, a pasta também o caracterizou como um indivíduo sem documentos e com um histórico criminal, o qual, segundo documentos judiciais, se refere a condenações menores da adolescência, admitidas por Chávez.
Aceleração das Deportações sob a Administração Trump
O período compreendido entre janeiro e outubro de 2025, correspondente aos primeiros dez meses do segundo governo de Donald Trump, foi palco de um volume sem precedentes de remoções. Levantamentos indicam que pelo menos 200 mil latino-americanos foram deportados neste intervalo. Este número contrasta agudamente com as 34.293 deportações registradas para o mesmo período (janeiro a outubro) do primeiro governo de Joe Biden, em 2021.
A análise comparativa revela uma escalada dramática nas operações de remoção. O contingente de deportados sob Trump é quase seis vezes superior ao observado durante o governo anterior, representando um incremento de aproximadamente 470%. Este crescimento vertiginoso reflete a concretização da promessa de “deportação em massa” que pautou a plataforma política de Trump.
A apuração desses dados foi realizada pela CNN, que estabeleceu contato com ministérios das Relações Exteriores, institutos de migração e ministérios do Interior de diversos países latino-americanos. Contudo, na ocasião da elaboração do relatório, Argentina, Bolívia, El Salvador, Nicarágua, Panamá e Paraguai não haviam fornecido suas informações, sugerindo que o número total de deportações pode ser ainda maior do que o inicialmente compilado.
O Perfil dos Deportados e o Crescimento da Comunidade Latina nos EUA
A comunidade latina nos Estados Unidos tem demonstrado um crescimento contínuo, atingindo um contingente recorde de mais de 68 milhões de pessoas em 2024, conforme dados do US Census Bureau. Este grupo demográfico é tão numeroso que, em toda a América Latina, é superado apenas pelas populações do Brasil e do México.
Historicamente, a população mexicana constitui o maior segmento hispânico nos EUA, totalizando 38,9 milhões de indivíduos em 2024, o que representa 11,5% da população total do país e um aumento em relação aos 35,9 milhões registrados em 2020. Em consonância com essa demografia, o México figura como o país com o maior número de cidadãos deportados, com mais de 100 mil pessoas, ou seja, 53% do total de remoções de latinos dos EUA.
Guatemala e Honduras seguem na lista, respondendo por 15% e 13% das deportações, respectivamente. Estes países são frequentemente associados a desafios como violência endêmica, pobreza e escassez de oportunidades, fatores que impulsionam milhares de seus cidadãos a buscar uma vida melhor nos Estados Unidos. As comunidades da América Central, em particular, têm experimentado um crescimento notável nos últimos anos. A população hondurenha, por exemplo, superou a marca de um milhão de residentes nos EUA pela primeira vez desde 2010. A comunidade guatemalteca é ainda mais expressiva, com mais de 2 milhões de pessoas, configurando-se como uma das maiores populações centro-americanas no país, ao lado dos salvadorenhos, que somam aproximadamente 3 milhões de residentes.
Países sul-americanos como Colômbia, Equador e, notavelmente, Venezuela – esta última impulsionada por uma profunda crise econômica e humanitária – também viram suas comunidades ultrapassarem a marca de um milhão de pessoas nos EUA, segundo o Censo, e foram significativamente afetadas pelas deportações intensificadas sob a gestão Trump. A população venezuelana, inclusive, registrou o crescimento mais rápido entre os grupos hispânicos, com um aumento de 181% entre 2010 e 2020.
Em contraste, Chile e Costa Rica registraram um número bem menor de deportações, menos de 400 no total combinado, o que se alinha com o fato de serem comunidades latino-americanas menores nos EUA. Estima-se que, em 2024, viviam nos Estados Unidos cerca de 82 mil uruguaios, 227 mil chilenos e 220 mil costa-riquenhos.
A Estratégia de Imigração da Administração Trump
A abordagem da administração Trump para a questão migratória difere substancialmente daquela adotada por seu predecessor. Enquanto o governo Biden priorizou a contenção da entrada ilegal de imigrantes na fronteira sul e a gestão das principais rotas, o governo Trump implementou uma estratégia de ofensiva no interior do país, com a “máquina de deportação” focada em diversas frentes.
As operações do ICE passaram a ocorrer em uma ampla gama de locais, incluindo ambientes de trabalho, estacionamentos, áreas residenciais e até mesmo nas imediações de tribunais de imigração. Além das remoções físicas, a política de imigração do governo revisa ativamente green cards, elimina programas de proteção temporária e impõe limitações a vistos de trabalho, impactando não apenas aqueles que cruzaram a fronteira de forma irregular, mas também imigrantes com status legal no país, estendendo as consequências a comunidades inteiras.
Em certas localidades, como Los Angeles, essas medidas foram reforçadas com o destacamento da Guarda Nacional. Os números do Departamento de Segurança Interna indicam que, desde o início do segundo mandato de Trump, mais de meio milhão de imigrantes sem documentos foram deportados, englobando tanto aqueles barrados nos portos de entrada quanto os detidos dentro do território nacional. Apesar do volume considerável, o ritmo atual ainda se encontra aquém da meta estabelecida pela Casa Branca de um milhão de deportações anuais.
Impacto Econômico e Social das Deportações
A intensificação das deportações acarreta consequências significativas em diversos setores da economia norte-americana, especialmente na agricultura. Imigrantes sem documentos representam entre 4% e 5% da força de trabalho total do país. Contudo, sua participação é muito mais pronunciada em indústrias como agricultura, transformação alimentar e construção, onde chegam a constituir 20% ou mais do total de trabalhadores, conforme análise da Goldman Sachs.
O Departamento de Agricultura dos EUA estima que 42% dos trabalhadores agrícolas contratados não possuem autorização de trabalho. A partir de abril de 2025, o país registrou a saída de 1,4 milhão de pessoas da força de trabalho, das quais 802 mil eram nascidas no exterior, de acordo com o Bureau of Labor Statistics. Embora os trabalhadores agrícolas não sejam incluídos nos relatórios mensais oficiais de emprego, especialistas concordam que a política de imigração exerce um impacto transversal em toda a nação.
Os relatos diretos do campo corroboram essa percepção. No condado de Wasco, Oregon, um agricultor estimou uma perda de 250 mil a 300 mil dólares durante a safra de verão, uma vez que metade de seus trabalhadores não compareceu devido ao receio de serem detidos. Cenários como o vivenciado nos pomares de Ian Chandler, onde cerejas apodreceram nas árvores por falta de colhedores, ilustram as ramificações diretas da escassez de mão de obra imigrante.
Além das perdas econômicas, as deportações trazem um custo social e humano profundo. A família de Leonel Chávez reflete essa realidade. A filha de Chávez lamentou o tratamento desumano dado a pessoas que contribuem para a sociedade americana, mesmo sem documentos, destacando que seu pai tinha uma pequena empresa, pagava impostos e buscava o crescimento. Para Leonel, a esperança de reencontro com a família em meio ao desafio é um motivador para permanecer otimista, apesar do sentimento de desolação.
FAQ: Esclarecendo as Políticas de Deportação nos EUA
Qual a principal mudança na política de imigração dos EUA sob o segundo mandato de Trump?
A principal mudança é a implementação de uma estratégia ofensiva no interior do país, com aumento significativo nas detenções e deportações em locais de trabalho, residências e áreas próximas a tribunais, contrastando com o foco anterior na fronteira.
Quais nacionalidades latino-americanas são as mais afetadas pelas recentes deportações?
Os cidadãos mexicanos são os mais afetados, representando 53% das deportações de latinos. Em seguida, vêm guatemaltecos (15%) e hondurenhos (13%).
Quais são as consequências econômicas da intensificação das deportações nos Estados Unidos?
As consequências incluem a escassez de mão de obra em setores como agricultura, transformação alimentar e construção, onde imigrantes têm papel crucial, resultando em perdas financeiras para agricultores e interrupções na produção.
O panorama atual da política de imigração dos EUA, com seu ritmo acelerado de deportações e impactos multifacetados, ressalta a complexidade e a urgência de debates sobre direitos humanos, soberania nacional e a contribuição de imigrantes para a sociedade.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br



















