Sumário
ToggleO Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de Honduras anunciou a retomada da contagem manual dos votos da eleição presidencial do país na segunda-feira, dia 8, após um período de três dias de suspensão. Este reinício ocorreu em um cenário de intensa pressão, marcado pela interferência do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, que manifestou apoio público e contundente ao candidato que liderava a disputa com uma margem estreita de apenas 19 mil votos.
A paralisação na apuração gerou incerteza e debates no ambiente político hondurenho. Segundo a presidente do CNE, Ana Paula Hall, a interrupção foi necessária para a “realização das ações técnicas necessárias”, as quais foram acompanhadas por uma auditoria externa. Após a conclusão desses procedimentos, os dados começaram a ser atualizados na divulgação dos resultados, visando garantir a transparência e a legitimidade do processo eleitoral.
O Cenário Eleitoral e a Retomada da Contagem
A eleição presidencial, realizada em 30 de novembro, colocou em evidência um sistema de votação particular em Honduras, que se baseia em cédulas de papel para a contagem manual dos votos. Este método, embora tradicional, pode ser mais suscetível a contestações e à necessidade de revisões detalhadas, como a que motivou a suspensão e posterior auditoria. Com aproximadamente 88% das urnas apuradas antes da paralisação, os dados iniciais apontavam para uma disputa acirrada, com o candidato apoiado por Trump, Nasry Tito Asfura, na liderança.
A retomada da contagem foi acompanhada de perto pela comunidade nacional e internacional, dado o contexto de alta polarização e as acusações de ingerência. A credibilidade do processo eleitoral hondurenho tornou-se um ponto focal, com as autoridades eleitorais buscando reafirmar a integridade dos resultados através das medidas técnicas e da auditoria externa anunciadas pela presidente do CNE.
A Influência de Donald Trump nas Eleições Hondurenhas
A intervenção do então presidente dos EUA, Donald Trump, configurou-se como um elemento central na dinâmica eleitoral hondurenha. Trump não apenas declarou seu apoio irrestrito a Nasry Tito Asfura, candidato do Partido Nacional, mas também utilizou suas plataformas de comunicação para emitir advertências e sugestões sobre o processo. Sem apresentar evidências concretas, Trump insinuou que o CNE estaria manipulando os resultados, ameaçando com “consequências terríveis” caso a suposta alteração se concretizasse. Essas declarações reverberaram intensamente no cenário político de Honduras, intensificando a controvérsia e a desconfiança em relação à imparcialidade do pleito.
A postura de Trump foi categorizada por setores políticos hondurenhos como uma clara ingerência nos assuntos internos do país. O impacto de tais declarações de uma figura de alto escalão internacional é significativo, especialmente em uma nação com fortes laços históricos e econômicos com os Estados Unidos. A manifestação explícita de preferência e as ameaças subsequentes contribuíram para criar um clima de tensão e incerteza, adicionando uma camada de complexidade à já delicada situação eleitoral.
O Partido Libre e o Pedido de Anulação
Em resposta à percepção de ingerência externa e ao cenário eleitoral, o Partido Libre, de esquerda, que representa o governo da presidente Xiomara Castro, solicitou formalmente a anulação total das eleições realizadas em 30 de novembro. O pedido foi formalizado no domingo, dia 7, e fundamentou-se na acusação de que a interferência de Donald Trump comprometeu a lisura e a legitimidade do pleito.
Em seu comunicado, o partido governista não apenas condenou veementemente a “ingerência e coação” exercida por Trump nas eleições de Honduras, mas também levantou uma acusação grave sobre uma campanha de desinformação. O Partido Libre alegou que Trump e uma “oligarquia aliada” teriam enviado milhões de mensagens a hondurenhos por meio de redes sociais, afirmando que aqueles que não votassem no candidato apoiado por Trump não receberiam as remessas enviadas por trabalhadores hondurenhos residentes nos EUA. Esta tática, se comprovada, representaria uma forma de coação econômica e psicológica sobre o eleitorado, visando influenciar o resultado em favor de Nasry Tito Asfura.
O Indulto de Juan Orlando Hernández e suas Implicações
Um dos pontos mais polêmicos e citados pelo Partido Libre como evidência da ingerência de Trump foi o indulto concedido ao ex-presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández. Hernández foi condenado em um tribunal de Nova York, em 2024, a 45 anos de prisão por narcotráfico, sob a acusação de ter facilitado a importação de toneladas de cocaína para os Estados Unidos. O anúncio do indulto por parte de Donald Trump ocorreu “em meio à campanha eleitoral hondurenha”, o que gerou forte controvérsia.
Juan Orlando Hernández é membro do Partido Nacional, a mesma legenda de Nasry Tito Asfura, o candidato apoiado por Trump. A concessão do indulto a um ex-presidente condenado por crimes graves de narcotráfico, em um momento tão sensível do calendário eleitoral hondurenho, foi interpretada pelo Partido Libre como uma manobra política direta para beneficiar o candidato do Partido Nacional e consolidar a influência estadunidense na política interna de Honduras. A conexão entre o indulto e a corrida presidencial adicionou uma dimensão complexa às acusações de manipulação e coação.
Panorama dos Candidatos e a Disputa Acirrada
A corrida presidencial em Honduras apresentou um quadro competitivo, especialmente entre os dois primeiros colocados. Nasry Tito Asfura, com 67 anos, ex-prefeito da capital Tegucigalpa, representava o Partido Nacional, uma legenda com um histórico robusto, tendo eleito 13 presidentes no país centro-americano. Sua campanha foi impulsionada pelo apoio explícito de Donald Trump, visando alinhar Honduras a uma agenda política específica.
Em segundo lugar, Salvador Nasralla, do Partido Liberal, considerado de centro-direita, angariou 39,51% dos votos apurados até o momento da suspensão. A diferença para Asfura era de aproximadamente 19 mil votos, uma margem extremamente apertada que sublinhava a incerteza do resultado final. Em terceiro lugar, Rixi Moncada, a candidata governista do Partido Libre, de esquerda, obteve 19,28% dos votos. É importante destacar que o sistema eleitoral hondurenho não prevê segundo turno, o que significa que o candidato com o maior número de votos na primeira e única rodada de votação é declarado vencedor.
Análise Geopolítica: Estados Unidos e América Latina
O professor de relações internacionais da Universidade Católica de Brasília (UCB), Gustavo Menon, analisou a ingerência de Trump na eleição hondurenha sob a ótica da geopolítica. Para Menon, a ação de Trump reflete um reposicionamento estratégico dos Estados Unidos na América Latina, com o objetivo principal de limitar a crescente influência chinesa na região. Os EUA consideram a América Central uma área de sua histórica esfera de influência e buscam garantir a eleição de candidatos alinhados à sua política externa e aos valores conservadores da Casa Branca.
Menon enfatizou que a agenda de Nasry Tito Asfura, apoiado por Trump, apresentava maior proximidade com a administração estadunidense, especialmente em questões como a imigração. Ele explicou que a ala mais radical do Partido Republicano nos EUA encontrava sinergia com a atuação do Partido Nacional em Honduras. Por outro lado, o Partido Liberal, de Salvador Nasralla, com suas “iniciativas liberalizantes”, poderia convergir com interesses chineses, o que justificaria a movimentação estadunidense para apoiar o Partido Nacional. A eleição em Honduras, portanto, tornou-se um palco para a disputa de influência entre potências globais na América Central.
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FAQ
1. Quais são os principais candidatos na eleição presidencial de Honduras mencionada no artigo?
Os principais candidatos são Nasry Tito Asfura (Partido Nacional), Salvador Nasralla (Partido Liberal) e Rixi Moncada (Partido Libre).
2. Qual foi o papel do ex-presidente Juan Orlando Hernández e por que ele foi mencionado?
Juan Orlando Hernández, ex-presidente de Honduras, foi condenado em Nova York por narcotráfico e recebeu um indulto de Donald Trump. Sua menção é relevante porque ele pertence ao mesmo partido de Nasry Tito Asfura, e o indulto ocorreu em meio à campanha eleitoral, gerando acusações de ingerência.
3. Como a ingerência dos Estados Unidos foi interpretada no contexto da eleição hondurenha?
A ingerência dos EUA, personificada por Donald Trump, foi interpretada como uma tentativa de limitar a influência chinesa na América Latina e de assegurar a eleição de um candidato alinhado com os interesses e valores conservadores da administração estadunidense, conforme a análise do professor Gustavo Menon.
















