Sumário
ToggleAos quarenta anos, em um ponto de inflexão em sua trajetória profissional e pessoal, Bartira Almeida empreendeu uma reavaliação decisiva sobre o propósito de sua vida produtiva. Esse questionamento profundo, que surgiu durante discussões sobre a sucessão familiar, a impulsionou a buscar um novo caminho para a segunda metade de sua carreira, afastando-se da estabilidade do setor corporativo.
Filha de engenheiros e inserida em uma família que edificou uma empresa consolidada no mercado imobiliário, Bartira assimilou desde cedo a correlação entre esforço e realização. Sua formação em engenharia a levou à Morar Construtora, onde permaneceu por duas décadas. Durante esse período, progrediu de estagiária a vice-presidente, percorrendo diversas áreas da organização. Sua experiência na construtora foi fundamental para moldar suas habilidades gerenciais e sua visão de longo prazo, consolidando-a como uma gestora competente.
Da Carreira Corporativa ao Empreendedorismo Social
Apesar da segurança financeira e da governança corporativa robusta presente na empresa familiar, a executiva percebeu a necessidade de um propósito renovado. Seu primeiro movimento foi estratégico: buscar orientação junto a indivíduos que já haviam alterado suas trajetórias profissionais. Nessas conversas, muitos atuantes no campo social expressavam a sensação de que recebiam mais do que entregavam, uma percepção que ressoou profundamente em Bartira Almeida.
Antes de iniciar qualquer empreendimento, a empresária adotou uma metodologia comum a executivos experientes, dedicando dois anos à pesquisa de campo intensiva. Nesse período, ela visitou quarenta e dois projetos sociais distintos. A imersão revelou uma realidade complexa: embora os projetos fossem sérios e bem-intencionados, a maioria apresentava deficiências significativas em termos de gestão. A busca de Bartira era por iniciativas que demonstrassem metas claras, avaliações sistemáticas, métricas de desempenho e resultados tangíveis. A ausência de um projeto que atendesse a esses critérios a fez compreender que seria necessário criar uma iniciativa própria, alinhada à sua visão de impacto social com rigor gerencial. Essa fase de pesquisa foi um ponto de virada, pavimentando o caminho para a fundação do Instituto Ponte.
O Instituto Ponte: Uma Estrutura com Propósito
Em 2014, Bartira Almeida materializou sua visão ao fundar o Instituto Ponte. O empreendimento começou com um objetivo financeiro claro e ambicioso: angariar seis doadores que se comprometessem a investir anualmente R$ 30 mil cada. Bartira conseguiu conquistar o apoio de cinco doadores. A sexta vaga, crucial para a viabilidade inicial do projeto, foi assumida por ela mesma. Essa decisão, segundo a fundadora, representava um teste de convicção e um sinal de que o projeto merecia existir.
Desde sua concepção, o Instituto Ponte foi meticulosamente estruturado com uma mentalidade empresarial. Isso se traduziu na implementação de um orçamento detalhado, estabelecimento de metas precisas, utilização de indicadores de desempenho, processos de avaliação contínuos e a formalização de contratos baseados em resultados. Bartira Almeida enfatiza que o funcionamento de uma organização não governamental (ONG) compartilha muitas características com uma empresa tradicional, possuindo Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), orçamento e equipe. A distinção fundamental, ela ressalta, reside exclusivamente no propósito da organização.
O foco central do Instituto Ponte reside na identificação de jovens talentosos provenientes da rede pública de ensino. O objetivo primordial é acelerar a ascensão social desses indivíduos, possibilitando uma mudança geracional significativa. A metodologia do Instituto consiste em atuar como um “olheiro da escola pública”, buscando alunos que demonstrem inteligência acima da média e uma genuína aspiração por transformar suas vidas, oferecendo-lhes as ferramentas e o suporte necessários para alcançar seu potencial máximo.
Impacto Mensurável e Crescimento Estratégico
Atualmente, o Instituto Ponte estende seu alcance a 466 alunos, distribuídos em dezenove estados brasileiros. Os dados de impacto da instituição são notáveis: em média, os estudantes que concluem o programa do Instituto Ponte alcançam uma renda seis vezes superior à renda per capita familiar de origem. Este índice evidencia o sucesso da metodologia em promover uma transformação socioeconômica substancial em uma única geração.
A taxa de evasão universitária entre os alunos assistidos pelo Instituto Ponte é de apenas 2%, um número que se destaca significativamente em comparação com as médias nacionais, que podem atingir até 40%. Bartira Almeida explica que a educação é um projeto de longo prazo para o Instituto, com um ciclo de investimento que se estende por dez anos para cada aluno. Esse compromisso financeiro e pedagógico de uma década demonstra a profundidade e a seriedade da iniciativa.
Nos últimos três anos, o Instituto Ponte registrou um crescimento aproximado de 30% ao ano. Contudo, a expansão é tratada pela fundadora como uma decisão estratégica de alto risco, exigindo planejamento e recursos substanciais. A meta estabelecida é alcançar 650 alunos até o ano de 2029. Para concretizar essa expansão, são necessários R$ 30 milhões em recursos financeiros diretos, além de R$ 80 milhões em parcerias estratégicas. Bartira Almeida descreve sua abordagem para o crescimento afirmando que “administra impacto como fluxo de caixa”, sublinhando a importância da sustentabilidade financeira para a perenidade do impacto social.
O financiamento do Instituto depende integralmente de doações privadas, sem a utilização de recursos públicos. A transição da vice-presidência de uma construtora para a liderança de uma ONG trouxe a Bartira a uma nova realidade, que ela descreve com um humor franco como “virar uma pedinte ambulante”, destacando o desafio e a dedicação à captação de recursos.
Essa mudança de setor gerou aprendizados recíprocos e valiosos. Bartira Almeida introduziu no setor social a objetividade, os números e as metas que caracterizam o ambiente corporativo. Em contrapartida, ela assimilou dos projetos sociais conceitos fundamentais como acolhimento e equidade. A fundadora pontua que a discussão sobre meritocracia deve ser sempre acompanhada pela compreensão da equidade, reconhecendo que as oportunidades iniciais não são as mesmas para todos e que a ascensão social requer bases equitativas.
FAQ: Perguntas Frequentes sobre o Instituto Ponte
O que é o Instituto Ponte?
O Instituto Ponte é uma organização fundada por Bartira Almeida em 2014, dedicada a identificar jovens talentosos da rede pública de ensino e acelerar sua ascensão social em uma única geração, por meio de uma abordagem de gestão estruturada e foco em resultados.
Qual a filosofia de gestão do Instituto Ponte?
O Instituto Ponte adota uma filosofia de gestão empresarial, implementando orçamento, metas claras, indicadores de desempenho, avaliação contínua e contratos de resultado. A fundadora Bartira Almeida compara a estrutura de uma ONG à de uma empresa, destacando que a principal diferença reside no propósito da organização.
Qual o impacto do Instituto Ponte na vida dos jovens?
O Instituto Ponte atende 466 alunos em 19 estados, com um impacto significativo na renda e na trajetória acadêmica. Os alunos do Instituto, em média, alcançam uma renda seis vezes superior à renda per capita familiar após a formação, e a taxa de evasão universitária é de apenas 2%, em contraste com a média nacional que pode chegar a 40%.
Fonte: https://www.infomoney.com.br

















