Sumário
ToggleNesta segunda-feira, a TV Brasil apresentou um novo episódio de seu programa investigativo, “Caminhos da Reportagem”, dedicado ao tema “Menopausa sem Segredo”. A produção televisiva teve como foco primordial a exploração da rotina de mulheres que atravessam uma fase da vida frequentemente pouco abordada, ainda envolta em tabus sociais e caracterizada por uma gama de sintomas que nem sempre são amplamente compreendidos ou reconhecidos.
A Nova Realidade da Longevidade Feminina
O século atual testemunhou uma transformação substancial na longevidade feminina brasileira. Em um período de pouco mais de cem anos, a expectativa de vida das mulheres no Brasil registrou um aumento significativo, multiplicando-se em 2,5 vezes. Dados históricos revelam que, no ano de 1900, a expectativa média de vida para uma mulher brasileira era de aproximadamente 33,7 anos. Em contrapartida, os números atuais indicam que essa expectativa elevou-se para 79,9 anos. Esta notável expansão na duração da vida tem uma implicação direta no contexto da saúde feminina: atualmente, uma parcela considerável das mulheres brasileiras vivencia cerca de um terço de suas vidas no período da menopausa, o que ressalta a importância de discutir e compreender essa etapa.
Os Sintomas Desafiadores do Climatério e Perimenopausa
Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiras se encontram nas etapas do climatério, da pré-menopausa ou da menopausa. Esta transição hormonal é marcada por uma série de manifestações físicas e emocionais que podem impactar profundamente a qualidade de vida. A jornalista Maria Cândida, por exemplo, relatou ter sido surpreendida pelos intensos sintomas da perimenopausa. Ela descreveu sua experiência como um “furacão, uma tempestade, um chacoalhão”, expressando a magnitude do impacto em sua vida. Entre os sinais mais proeminentes que a afetaram, estavam uma exaustão tão profunda que gerava um desejo constante de repouso, além de intensa irritabilidade, distúrbios de insônia e uma acentuada perda de libido.
Experiências Pessoais e a Busca por Respostas
A situação vivida por Maria Cândida ecoa a de muitas outras mulheres. Adriana Ferreira, que atualmente preside o Instituto Menopausa Feliz, compartilhou uma vivência similar. Ela mencionou que, em seu prontuário médico, era frequentemente categorizada como “mulher poliqueixosa”, uma terminologia que reflete a multiplicidade de sintomas apresentados sem um diagnóstico claro ou uma compreensão aprofundada da condição subjacente. Adriana salientou que, até então, nunca havia sequer ouvido a palavra “climatério”, evidenciando a falta de informação e reconhecimento sobre essa fase. Ambas, Maria Cândida e Adriana Ferreira, observaram melhorias significativas em seus quadros após iniciarem a Terapia de Reposição Hormonal (TRH).
O Papel da Terapia de Reposição Hormonal
A Terapia de Reposição Hormonal é um dos tratamentos disponíveis para gerenciar os sintomas da menopausa e do climatério. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) endossa a recomendação da TRH, enfatizando, contudo, que sua aplicação deve ser personalizada, considerando as particularidades e o histórico de saúde de cada caso individual. A decisão de iniciar ou não o tratamento, bem como a escolha do regime terapêutico, deve ser sempre orientada por uma avaliação médica criteriosa.
Perspectiva Médica sobre o Tratamento
A ginecologista Beatriz Tupinambá, entrevistada pelo “Caminhos da Reportagem”, forneceu esclarecimentos importantes sobre a TRH. Segundo a especialista, o momento mais propício para dar início ao tratamento é antes da instalação plena da menopausa, durante o período do climatério. Este ponto é crucial porque os sintomas que se manifestam não são meramente incômodos passageiros; eles sinalizam alterações fisiológicas mais profundas no organismo feminino. A Dra. Tupinambá alertou que a menopausa e o climatério estão associados a riscos elevados, como a diminuição da densidade óssea, o aumento do risco cardiovascular e a elevação da pressão arterial. Ela enfatizou a gravidade dessas mudanças ao afirmar que, após a menopausa, a proporção de mulheres que sofrem enfarte é de duas para cada homem, sublinhando a necessidade de atenção médica e intervenção preventiva.
A Ocorrência da Menopausa Precoce: Causas e Impactos
Embora a menopausa seja tipicamente esperada em uma faixa etária mais avançada, a menopausa precoce representa uma realidade para aproximadamente 1% das mulheres. Este diagnóstico, que ocorre antes dos 40 anos, pode gerar um impacto emocional e físico considerável. A atriz Julieta Zarza recebeu o diagnóstico de menopausa precoce aos 37 anos. Sua percepção da situação foi de que havia um “carimbo na testa: data de validade vencida”, expressando a angústia e a sensação de perda associadas à condição. A confeiteira Nayele Cardoso viveu uma experiência ainda mais precoce, sendo diagnosticada aos 27 anos. Nayele recorda que a principal informação recebida de sua médica foi que ela “não ia poder ter filhos”, um dado que impactou diretamente seus planos de vida e sua identidade.
Causas da Menopausa Precoce
A clínica geral Andrea Alvarenga explicou que a menopausa precoce pode ser desencadeada por uma variedade de fatores. Entre eles, destacam-se predisposições genéticas, intervenções cirúrgicas que afetam os ovários, tratamentos de quimioterapia e a presença de doenças autoimunes. Compreender essas causas é fundamental para o diagnóstico e manejo adequados da condição.
Menopausa e o Ambiente de Trabalho
O impacto da menopausa não se restringe à esfera pessoal e de saúde; ele também se estende ao ambiente profissional. Uma pesquisa conduzida pela consultoria Korn Ferry, que envolveu mais de 8 mil mulheres em três países, revelou que 47% das entrevistadas sentiram algum tipo de impacto da menopausa em suas atividades de trabalho. Adriana Rosa, sócia da Korn Ferry, detalhou que os três sintomas mais frequentemente citados como causadores desses impactos foram estresse, dificuldade de concentração e perda de paciência. Esses dados sublinham a necessidade de maior conscientização e suporte no local de trabalho para mulheres que atravessam essa fase.
Atenção à Saúde da Mulher no Contexto Nacional
No Brasil, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, implementada em 2004, tem como objetivo orientar as diretrizes de cuidado oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, o manual que detalha essa política está em processo de atualização, visando aprimorar o suporte e os serviços oferecidos. Contudo, Maria Teresa Rossetti Massari, representante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontou uma lacuna importante: “Não temos tantas ações voltadas para mulheres na transição da menopausa”. Essa observação destaca a necessidade de fortalecer programas e iniciativas específicas para essa etapa da vida feminina.
Política Nacional e as Lacunas Existentes
O Ministério da Saúde, por sua vez, assegura que existe suporte disponível na atenção primária do SUS, abrangendo consultas, exames essenciais, acesso a medicamentos e a oferta de práticas integrativas complementares. Para os casos que demandam uma abordagem mais complexa, o Ministério afirma que as pacientes são devidamente encaminhadas para atendimento com especialistas, garantindo a continuidade do cuidado. No entanto, a fala da representante da Fiocruz reforça a percepção de que, apesar da estrutura existente, pode haver uma falta de especificidade ou visibilidade para as necessidades das mulheres no climatério.
O Suporte do Sistema Público de Saúde
Dentro do cenário nacional de saúde, o Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) desponta como uma das principais referências públicas em atendimento e pesquisa na área. O Dr. José Maria Soares Júnior, chefe do Ambulatório de Climatério do HC, ilustra a demanda por serviços especializados ao mencionar que seu ambulatório realiza entre 90 e 120 atendimentos semanais. Além das consultas médicas, o Hospital das Clínicas oferece uma gama completa de exames diagnósticos e a administração de terapia hormonal, sempre em conformidade com os protocolos clínicos estabelecidos, reforçando seu papel vital no suporte à saúde da mulher brasileira.
Para aprofundar seu conhecimento sobre a menopausa e o climatério, buscando informações e suporte, consulte profissionais de saúde e recursos especializados disponíveis no Sistema Único de Saúde.
FAQ sobre Menopausa e Climatério
1. O que o programa “Caminhos da Reportagem” sobre menopausa abordou?
O programa “Caminhos da Reportagem” da TV Brasil abordou a realidade das mulheres na menopausa e no climatério, desmistificando tabus, explorando os sintomas frequentemente desconhecidos e compartilhando experiências pessoais, além de discussões com especialistas e informações sobre políticas de saúde.
2. Qual a importância de discutir a menopausa na sociedade atual?
A discussão sobre a menopausa é crucial na sociedade atual devido ao aumento da longevidade feminina, que faz com que as mulheres passem um terço de suas vidas nessa fase. A falta de informação e os tabus em torno do tema podem levar a diagnósticos incorretos, impactar a qualidade de vida e o ambiente de trabalho, além de negligenciar riscos de saúde associados, como problemas ósseos e cardiovasculares.
3. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é indicada para todas as mulheres na menopausa?
Não, a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) não é universalmente indicada para todas as mulheres na menopausa. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) recomenda que a TRH seja prescrita de forma individualizada, considerando o histórico de saúde de cada paciente, a presença de sintomas, riscos e benefícios, e sempre sob orientação e acompanhamento médico.



















