Centenas de palestinos se reuniram nesta terça-feira (25) no norte da Faixa de Gaza em um protesto raro contra o Hamas, exigindo o fim da guerra e expressando indignação com o grupo que governa o território desde 2007. Em meio a escombros e destruição, manifestantes em Beit Lahiya seguravam cartazes com frases como “Basta de guerra” e gritavam “Fora Hamas”, em um ato incomum de dissidência pública contra a organização.
Vídeos do protesto circularam nas redes sociais, trazendo à tona o desespero da população civil, que enfrenta meses de bombardeios israelenses, deslocamento forçado e uma crise humanitária sem precedentes. Testemunhas afirmam que a manifestação foi espontânea, movida pela exaustão de moradores que já não têm para onde fugir.
“O norte de Gaza está em ruínas. As pessoas não suportam mais esse sofrimento”, disse um residente local à Reuters sob anonimato, temendo represálias do Hamas. “Muitos estão cansados de ser usados como escudos humanos e querem que essa guerra acabe.”
O Hamas minimizou o protesto. Basem Naim, um alto funcionário do grupo, reconheceu que os moradores têm o direito de expressar seu sofrimento, mas denunciou “agendas políticas suspeitas” que, segundo ele, estariam explorando a situação.
Escalada de tensões e ameaças mútuas
A crescente insatisfação dentro de Gaza ocorre em um momento de forte escalada do conflito. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, voltou a ameaçar ampliar a ofensiva militar na região caso o Hamas não liberte os reféns israelenses ainda sob seu poder.
“Quanto mais o Hamas continuar se recusando a libertar nossos reféns, mais poderosa será a repressão que exerceremos”, declarou Netanyahu durante uma audiência no Parlamento, sendo interrompido por membros da oposição.
O Hamas, por sua vez, alertou que os bombardeios israelenses estão colocando os reféns em risco. “Estamos fazendo todo o possível para garantir a sobrevivência dos prisioneiros, mas os ataques indiscriminados de Israel ameaçam suas vidas”, afirmou o grupo em comunicado.
Contexto e repercussão internacional
A Faixa de Gaza tem sido um dos epicentros do conflito israelo-palestino, e o domínio do Hamas sobre a região tem sido alvo de críticas tanto de setores da própria sociedade palestina quanto da comunidade internacional. Desde que assumiu o controle do território em 2007, após um conflito violento com a Autoridade Palestina, o grupo tem enfrentado acusações de repressão interna e uso da população civil como escudo em seus confrontos com Israel.
Os protestos desta semana também reforçam o crescente racha entre o Hamas e o Fatah, facção rival que governa a Cisjordânia. O Fatah pediu publicamente a renúncia do Hamas, acusando o grupo de colocar em risco a existência dos palestinos na Faixa de Gaza. “O Hamas deve demonstrar compaixão por Gaza, por suas crianças e suas famílias. Alertamos para dias difíceis que virão”, declarou o porta-voz do Fatah, Mounther al-Hayek.
Enquanto isso, a comunidade internacional segue dividida. Algumas nações pedem um cessar-fogo imediato e maior proteção para os civis palestinos, enquanto Israel reafirma sua posição de que o Hamas deve ser desmantelado. Organizações de direitos humanos alertam para a catástrofe humanitária em Gaza, onde a infraestrutura básica colapsou e a população enfrenta escassez extrema de alimentos, água e medicamentos.
A incerteza sobre o futuro de Gaza
Com a guerra se arrastando e sem sinais concretos de uma resolução diplomática, a população de Gaza continua pagando um preço devastador. O protesto contra o Hamas revela um descontentamento crescente entre os moradores, mas também expõe os riscos enfrentados por aqueles que ousam desafiar o governo do grupo.
A pergunta que paira agora é: até que ponto a população local conseguirá resistir à guerra e à repressão, e se essa manifestação representa o início de um movimento mais amplo contra o domínio do Hamas na Faixa de Gaza.
