Sumário
ToggleO cenário do futebol feminino global é marcado por uma complexa dicotomia que afeta diretamente a saúde e o desenvolvimento das atletas, conforme revelado por uma nova pesquisa da FIFPro. Enquanto jogadoras que atuam na elite da modalidade se deparam com agendas excessivamente preenchidas, culminando em exaustão e elevado risco de lesões, uma parcela significativa de outras atletas enfrenta o problema inverso: a escassez de partidas. Esse desequilíbrio gera consequências prejudiciais em ambos os extremos, comprometendo a performance e a longevidade das carreiras.
Análise da FIFPro Revela Disparidades nas Ligas
A pesquisa conduzida pela FIFPro, cujos resultados foram divulgados na última sexta-feira, dia 12, lançou luz sobre as acentuadas diferenças na carga de trabalho entre as principais competições europeias. O estudo teve como foco o monitoramento detalhado do número de jogos e o tempo de recuperação das atletas, oferecendo um panorama claro das condições operacionais nas quais as profissionais do esporte estão inseridas.
O Contraste entre Ligas Europeias
Em ligas como as da Alemanha e da França, as jogadoras participam, em média, de apenas catorze partidas por temporada, considerando todas as competições. Este número representa aproximadamente um jogo e meio por mês, um volume consideravelmente baixo para o desenvolvimento pleno e a manutenção do ritmo competitivo. Tal frequência de jogos pode impactar negativamente a evolução técnica e tática, além de limitar a experiência em campo que é crucial para o aprimoramento contínuo das atletas.
A Divergência na Women’s Super League Inglesa
A situação de descompasso na carga de trabalho é igualmente evidente na Women’s Super League (WSL), a principal liga de futebol feminino na Inglaterra. O relatório da FIFPro destacou um exemplo notável de disparidade: uma atleta do Arsenal acumulou o equivalente a treze jogos completos a mais em comparação com uma jogadora do Crystal Palace, equipe que disputa a segunda divisão do campeonato. Essa diferença substancial ilustra como as oportunidades de jogo se concentram nas equipes de elite, criando um fosso entre as jogadoras.
A Subcarga e Seus Impactos Prejudiciais no Desenvolvimento
A pesquisa da FIFPro enfatiza que a carência de tempo de jogo significativo estabelece um ciclo prejudicial. Atletas com menos minutos em campo chegam às partidas com um preparo físico e tático inferior, o que as torna menos competitivas e mais suscetíveis a lesões. Essa falta de ritmo e experiência também resulta na perda de espaço em convocações para seleções nacionais, solidificando um abismo no desenvolvimento entre as jogadoras.
Maitane Lopez, jogadora da seleção espanhola e atleta do Chicago Stars, corroborou essa análise, afirmando que a “subcarga é real” e que as jogadoras precisam de tempo competitivo. Lopez ressaltou a importância da prática para o amadurecimento profissional, apontando que “as jogadoras mais jovens não têm minutos suficientes para evoluir”, o que compromete a formação de novos talentos e a profundidade dos elencos.
A Sobrecarga no Topo da Carreira: O Caso de Aitana Bonmatí
No extremo oposto da escala de carga de trabalho, encontram-se as estrelas da modalidade, que frequentemente enfrentam um volume extenuante de jogos e compromissos. Aitana Bonmatí, tricampeã da Bola de Ouro, personifica esse grupo de elite sobrecarregada. Na temporada anterior, a meio-campista do Barcelona participou de sessenta aparições em campo, um número que reflete a intensidade de sua agenda.
Ao longo desse período, Bonmatí foi instrumental nas conquistas de seu clube, auxiliando o Barcelona a vencer a liga e a copa nacionais, além de alcançar a final da Liga dos Campeões Feminina. Paralelamente, ela defendeu a seleção da Espanha na final da Eurocopa. Toda essa demanda culminou em uma lesão séria; Bonmatí, aos 27 anos, precisou se afastar por cerca de cinco meses após ser submetida a uma cirurgia devido a uma fratura na fíbula esquerda, sofrida durante um treinamento com a equipe nacional. Este incidente sublinha o alto preço físico que as atletas de ponta pagam pela sobrecarga.
Desigualdade Estrutural entre Gêneros no Futebol
Apesar de atuarem em grandes clubes e representarem suas seleções em nível mundial, jogadoras como Bonmatí ainda não dispõem das mesmas estruturas de apoio e recuperação disponíveis no futebol masculino. Essa é uma das principais preocupações levantadas no relatório da FIFPro. A falta de recursos adequados agrava o problema da sobrecarga, mesmo para as atletas que estão no auge de suas carreiras.
Culvin, uma das vozes do relatório, destacou que, embora as jogadoras de elite enfrentem uma carga altíssima, elas frequentemente não competem em condições que permitem o pleno rendimento. Isso se deve à ausência de facilidades como voos fretados, equipes dedicadas de nutrição e fisioterapia, e infraestrutura completa para recuperação. Essa lacuna no suporte impede que as atletas alcancem seu potencial máximo e se recuperem adequadamente entre as partidas.
Maitane Lopez complementou essa visão, enfatizando que a carga de trabalho no futebol feminino aumenta em ritmo mais acelerado do que os mecanismos criados para proteger as atletas. Ela apontou que as condições oferecidas às equipes femininas estão “nem perto” de se igualarem às das masculinas. A jogadora sublinhou a urgência de “investir mais em tudo ao redor das jogadoras”, com foco na garantia de tempo para descanso e recuperação. Lopez reforçou que o “burnout existe” e que a “saúde mental importa”, evidenciando a necessidade de uma abordagem mais holística para o bem-estar das atletas.
Diante desse cenário complexo, a FIFPro reitera a necessidade de um compromisso maior por parte das federações, clubes e órgãos reguladores para criar um ambiente mais equitativo e sustentável para as atletas. O investimento em infraestrutura, equipes de apoio e um calendário de jogos balanceado são medidas essenciais para mitigar os riscos de lesões e esgotamento, ao mesmo tempo em que se garante o desenvolvimento contínuo das jogadoras em todas as etapas de suas carreiras.
Para aprofundar seu conhecimento sobre os desafios e avanços no futebol feminino, explore mais análises sobre a performance e o bem-estar das atletas.
Perguntas Frequentes sobre a Carga de Jogo no Futebol Feminino
O que a pesquisa da FIFPro revelou sobre a carga de trabalho no futebol feminino?
A pesquisa da FIFPro identificou uma dicotomia preocupante: enquanto jogadoras de elite sofrem com a sobrecarga de jogos e pouco tempo de recuperação, outras atletas enfrentam a falta de partidas, resultando em riscos de lesão e dificuldades de desenvolvimento para ambos os grupos.
Quais são os impactos da falta de jogos em ligas como a alemã e francesa?
A escassez de jogos (média de 14 partidas por temporada) em ligas como a alemã e francesa impede o desenvolvimento adequado das atletas, diminuindo seu preparo, competitividade e oportunidades de convocação para seleções, ampliando um abismo no desenvolvimento.
Como Aitana Bonmatí exemplifica a sobrecarga das atletas de elite?
Aitana Bonmatí, tricampeã da Bola de Ouro, realizou 60 aparições na última temporada por clube e seleção, o que culminou em uma fratura na fíbula esquerda e cirurgia, demonstrando o custo físico da alta carga de jogos sem a infraestrutura de suporte adequada.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br


















