Uma comitiva de diplomatas brasileiros viajou aos Estados Unidos para tentar persuadir o governo americano a buscar alternativas às tarifas impostas pelo presidente Donald Trump. A missão, coordenada por Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, faz parte de uma estratégia do governo brasileiro para evitar uma escalada de tensões comerciais.
Lyrio, que atualmente é o negociador-chefe do Brasil no Brics e atuou na mesma posição durante a presidência brasileira do G20 em 2024, lidera os esforços para abrir um canal de diálogo direto com Washington. A meta é esgotar todas as possibilidades de negociação antes de adotar medidas de reciprocidade ou levar a questão à Organização Mundial do Comércio (OMC), entidade que, segundo avaliação de diplomatas, enfrenta dificuldades para intervir eficazmente em disputas comerciais no cenário global.
Desde que Trump anunciou seu “tarifaço”, que inclui uma taxa de 25% sobre o aço e o alumínio importados — atingindo diretamente exportações brasileiras nesses setores —, o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio têm intensificado reuniões com representantes da Casa Branca.
Atualmente, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China. No entanto, as recentes decisões tarifárias representam uma ameaça significativa para setores-chave da economia brasileira, especialmente a indústria siderúrgica e metalúrgica. A imposição das tarifas pode impactar milhares de empregos no Brasil e prejudicar empresas que dependem da exportação desses produtos para o mercado americano.
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ToggleEstratégia do governo brasileiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reiterado sua intenção de esgotar todas as vias diplomáticas antes de recorrer a retaliações comerciais. Recentemente, após viagens ao Japão e ao Vietnã, Lula afirmou que o governo brasileiro usará “todas as palavras do nosso dicionário” para negociar com os EUA. Essa postura marca uma mudança de tom em relação a declarações anteriores, nas quais mencionava explicitamente a possibilidade de retaliação ou de recorrer à OMC.
Essa mudança estratégica ocorre em um momento delicado da política internacional, no qual diversos países tentam reconfigurar suas relações comerciais diante das políticas protecionistas de Trump. O Brasil busca se posicionar como um parceiro confiável e disposto ao diálogo, ao mesmo tempo em que protege seus interesses econômicos.
Documento enviado aos EUA
O governo brasileiro também formalizou sua posição por meio de um documento enviado ao Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês). A manifestação oficial expressa preocupação com os efeitos negativos do “tarifaço” sobre a relação comercial entre os dois países e pede que os EUA priorizem o diálogo em vez de adotar medidas unilaterais.
“O governo do Brasil reconhece os esforços do governo dos Estados Unidos para promover o desenvolvimento industrial e a criação de empregos nos EUA, uma política pública legítima que também é perseguida pelo governo brasileiro”, afirma o documento. “O Brasil insta os Estados Unidos a priorizar o diálogo e a cooperação em vez da imposição de restrições comerciais unilaterais, cujos riscos podem alimentar uma espiral negativa de medidas que poderiam comprometer severamente nossa relação comercial mutuamente benéfica.”
Próximos passos
A delegação brasileira continua as negociações nos EUA, buscando alternativas que possam minimizar os impactos negativos das tarifas. O governo brasileiro espera que, por meio do diálogo, seja possível encontrar soluções que beneficiem ambas as partes sem prejudicar setores produtivos essenciais. Caso as tratativas não avancem, o Brasil pode ser obrigado a adotar medidas retaliatórias ou recorrer formalmente à OMC para contestar as novas tarifas.
Especialistas em comércio internacional alertam que um confronto comercial direto com os EUA poderia trazer impactos negativos não apenas para o setor siderúrgico, mas também para outras áreas da economia brasileira que dependem do mercado americano. Diante disso, a estratégia diplomática adotada pelo governo Lula busca um equilíbrio entre a defesa dos interesses nacionais e a manutenção de uma relação comercial estável com os Estados Unidos.