A visita planejada pelo vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, à Groenlândia nesta sexta-feira (28), intensificou a crescente pressão do governo Trump sobre o território, com reações contundentes dos líderes da Groenlândia e da Dinamarca. Vance, que liderará uma delegação oficial à base militar americana em Avannaata, declarou que o objetivo da visita é “verificar a situação de segurança” na região.
O roteiro da visita sofreu modificações desde o anúncio inicial. Inicialmente, a viagem era planejada para ser acompanhada pela esposa de Vance, Usha, que se deslocaria à Groenlândia para assistir a uma corrida de trenós puxados por cães, evento cancelado posteriormente. Em vez disso, Usha também visitará a base militar, com JD Vance se juntando à comitiva para reforçar a presença do governo americano.
No entanto, a presença de Vance e sua delegação alterou o tom da visita, e o gesto foi recebido com críticas imediatas da liderança da Dinamarca e da Groenlândia. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, classificou a pressão exercida pelos Estados Unidos como “inaceitável”, expressando sua oposição a qualquer forma de intervenção externa sobre a Groenlândia. “Resistiremos a essa pressão”, declarou ela em uma entrevista à mídia dinamarquesa, sublinhando a postura firme do governo da Dinamarca.
O primeiro-ministro interino da Groenlândia, Mute Egede, também expressou sua desaprovação. Em 24 de março, Egede afirmou em um comunicado nas redes sociais que a visita dos EUA configurava uma forma de “interferência estrangeira” e ressaltou que reuniões com a delegação americana só ocorreriam após a posse do novo governo da Groenlândia. “Nossa integridade e nossa democracia devem ser respeitadas”, enfatizou Egede, destacando a necessidade de autonomia frente às influências externas.
Em uma entrevista ao jornal local Sermitsiaq, Egede lamentou a mudança na postura dos Estados Unidos, afirmando que a Groenlândia havia confiado nos americanos, mas que esse tempo de parceria parecia ter chegado ao fim. O provável sucessor de Egede, Jens-Frederik Nielsen, que lidera o partido de centro-direita vencedor das recentes eleições legislativas, também se mostrou crítico às declarações de Trump sobre a Groenlândia. Ele classificou as falas do ex-presidente como “inapropriadas” e reforçou o sentimento antiamericano crescente na ilha.
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ToggleO Contexto da Tensão: O Desejo de Trump pela Groenlândia
A visita de JD Vance ocorre em meio ao contexto de declarações repetidas de Donald Trump sobre a possibilidade de os Estados Unidos anexarem a Groenlândia. Em diversas ocasiões, o ex-presidente expressou seu desejo de adquirir a ilha, que pertence à Dinamarca, e chegou a mencionar que a segurança nacional dos Estados Unidos poderia justificar tal anexação. Trump declarou em março deste ano que a Groenlândia era estratégica para a “segurança internacional” e afirmou: “Eu acho que vai acontecer. Precisamos disso para nossa segurança.”
A Groenlândia, coberta em 80% por gelo e com uma população de cerca de 57 mil habitantes, possui grandes reservas de hidrocarbonetos e minerais cruciais para a transição energética global, além de sua localização estratégica para os Estados Unidos, principalmente em termos militares. Sua grande importância geopolítica tem sido um fator de interesse crescente por parte do governo americano.
Resistência Local e Protestos contra a Anexação
Apesar das ofertas de Trump, a população da Groenlândia tem demonstrado um forte sentimento de resistência à ideia de se tornar parte dos Estados Unidos. Recentemente, manifestações antiamericanas ganharam força, especialmente nas cidades de Nuuk e outras localidades da ilha. Pesquisas apontam que a maioria dos groenlandeses se opõe à ideia de anexação, reafirmando o desejo de autonomia e respeito à sua soberania.
O Impacto das Reações e o Futuro das Relações com os EUA
A crescente pressão dos Estados Unidos sobre a Groenlândia, especialmente durante o governo Trump, coloca em xeque as relações entre o território e seus aliados tradicionais, como a Dinamarca. A resposta de resistência de líderes groenlandeses e dinamarqueses sugere que a situação pode evoluir para um impasse diplomático, especialmente se a estratégia dos EUA continuar a ser vista como uma forma de coerção.
A visita de JD Vance, com toda a sua simbologia política, adiciona uma camada extra de complexidade a esse cenário, destacando a crescente disputa por influência na região do Ártico. Com interesses estratégicos, energéticos e militares em jogo, o governo dos Estados Unidos parece determinado a consolidar sua presença na Groenlândia, mas também encontra uma forte oposição tanto no campo diplomático quanto na sociedade local.
Essa nova fase nas relações entre os Estados Unidos e a Groenlândia é um reflexo da crescente tensão no cenário global, onde a soberania dos países e as disputas geopolíticas no Ártico se tornam cada vez mais relevantes. O que está em jogo não é apenas a integridade territorial da Groenlândia, mas também os rumos da política internacional na região.