O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumpriu agenda nesta sexta-feira (28) em Hanói, capital do Vietnã, após concluir sua viagem ao Japão. Em discurso ao lado do presidente vietnamita, Luong Cuong, Lula destacou a importância da América Latina e do Sudeste Asiático na construção de uma ordem mundial multipolar, enfatizando a necessidade de evitar uma nova divisão global em “zonas de influência”.
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A visita de Lula à Ásia foi estrategicamente planejada para ampliar parcerias comerciais e reduzir a dependência brasileira em relação a China e Estados Unidos, os dois maiores parceiros econômicos do Brasil. No entanto, a crescente disputa geopolítica entre essas potências, intensificada pela guerra tarifária e pela rivalidade econômica, levanta preocupações sobre o risco de uma nova polarização global.
“Como expoentes da construção de uma ordem multipolar, a América Latina e o Sudeste Asiático devem evitar uma nova divisão do globo em zonas de influência. Ainda que de forma distintas, Vietnã e Brasil sofreram os efeitos da Guerra Fria e sabem que o melhor caminho é o do não-alinhamento”, declarou Lula.
O peso da história e o posicionamento estratégico
A menção à Guerra Fria não foi casual. O Vietnã, dividido no passado entre Norte e Sul, viveu um conflito sangrento com forte envolvimento dos Estados Unidos, que enviaram tropas para apoiar o Vietnã do Sul contra o Vietnã do Norte, aliado da União Soviética. O conflito terminou em 1975, com a unificação do país sob regime comunista.
Já no Brasil, o período da Guerra Fria foi marcado pelo golpe militar de 1964 e a subsequente ditadura, regime apoiado pelos Estados Unidos como parte de sua estratégia para conter influências socialistas na América Latina.
Com esse pano de fundo, a defesa de Lula por um mundo multipolar e pela diversificação das parcerias internacionais reflete a tentativa de fortalecer a autonomia dos países emergentes e reduzir a influência das grandes potências sobre suas economias e políticas internas.
Expansão das relações comerciais
Além das discussões geopolíticas, a visita ao Vietnã tem um forte viés econômico. O comércio bilateral entre Brasil e Vietnã vem crescendo nos últimos anos, com destaque para exportações brasileiras de produtos como soja, carne e celulose. No entanto, há espaço para uma ampliação significativa dessas relações.
Empresários brasileiros que acompanham a comitiva presidencial participaram de reuniões para explorar novas oportunidades de negócios, especialmente nos setores de tecnologia, infraestrutura e energia renovável. O Vietnã, uma das economias que mais crescem na Ásia, é um mercado estratégico para o Brasil no contexto da diversificação de parcerias comerciais.
Por Que o Vietnã é um Parceiro Estratégico?
O Vietnã é hoje uma das economias que mais crescem no mundo, com forte atuação em:
🔹 Tecnologia e eletrônicos (sede da Samsung e Intel)
🔹 Exportação de commodities (café, arroz, produtos têxteis)
🔹 Atração de investimentos estrangeiros
📌 O Que o Brasil Quer com Essa Parceria?
✔ Aumentar exportações de alimentos (soja, carne, açúcar)
✔ Atrair investimentos vietnamitas em infraestrutura
✔ Fortalecer cooperação em energia renovável
Dado importante: O comércio bilateral já chega a US$ 7 bilhões/ano, mas pode crescer muito mais.
O Paralelo com a Guerra Fria: EUA x China
Lula comparou a atual disputa entre EUA e China com a Guerra Fria (1947-1991), quando:
❌ Vietnã foi dividido (Norte comunista x Sul capitalista)
❌ EUA apoiaram golpes na América Latina (incluindo o de 1964 no Brasil)
Por que isso importa hoje?
- Muitos países não querem “escolher lado”
- Brasil busca autonomia na política externa
Compromissos diplomáticos e próximos passos
A visita ao Vietnã encerra a viagem de Lula pela Ásia, que também incluiu compromissos no Japão, onde se reuniu com o imperador Naruhito, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba e líderes empresariais. Durante esses encontros, o presidente brasileiro reforçou a importância da cooperação internacional baseada no equilíbrio e no respeito à soberania de cada nação.
Com essa agenda, o Brasil busca consolidar sua posição como uma liderança no Sul Global, fortalecendo laços com nações que compartilham interesses estratégicos comuns e promovendo um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.
A visita de Lula ao Vietnã reforça sua visão de um mundo onde países emergentes não sejam meros espectadores das decisões tomadas pelas grandes potências, mas sim protagonistas na construção de um futuro mais justo e equilibrado.