O Banco Central reduziu sua estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025, passando de 2,1% para 1,9%. A revisão foi divulgada no relatório de política monetária do primeiro trimestre, publicado nesta quinta-feira (27). O documento reflete preocupações com fatores internos e externos que podem impactar a atividade econômica ao longo do ano.
Em 2024, a economia brasileira registrou uma expansão de 3,4%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A projeção de um crescimento menor para este ano indica uma desaceleração no ritmo da economia, o que já era previsto por economistas e analistas do setor privado.
De acordo com o Banco Central, a desaceleração esperada está relacionada a múltiplos fatores, como a política monetária contracionista (juros elevados para conter a inflação), a redução no ritmo de gastos públicos (menor impulso fiscal), a diminuição da capacidade ociosa na economia e uma moderação no crescimento global. Esses elementos combinados resultam em um cenário de menor dinamismo econômico, o que pode impactar o consumo e os investimentos no país.
Além disso, nesta semana, a instituição já havia indicado que, embora a atividade econômica e o mercado de trabalho ainda demonstrem certo dinamismo, há sinais iniciais de uma moderação no ritmo de crescimento. O Banco Central considera essa desaceleração um fator necessário para a redução das pressões inflacionárias.
“Temos que desacelerar um pouco a economia. O PIB veio um pouco mais fraco do que o esperado. Estamos observando sinais de moderação na atividade econômica, o que pode contribuir para o controle da inflação”, afirmou o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, no início deste mês.
Nos últimos trimestres, o Banco Central tem apontado que o “hiato do produto” – diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial – permaneceu positivo, ou seja, a economia operou acima do seu potencial de crescimento sem gerar pressões inflacionárias excessivas. No entanto, com a mudança no cenário econômico, o BC avalia que a tendência agora é de uma acomodação no nível de atividade.
Inflação
O Banco Central também revisou para cima sua projeção de inflação para 2025, aumentando a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,5% para 5,1%. Essa elevação reforça a preocupação com o controle dos preços e indica um cenário mais desafiador para a política monetária nos próximos meses.
A meta de inflação para 2025 é de 3%, com uma margem de tolerância que permite oscilações entre 1,5% e 4,5%. Com isso, a nova projeção do BC indica que há 70% de probabilidade de a inflação ultrapassar o teto da meta neste ano, o que configura um possível descumprimento do objetivo estabelecido.
O relatório do BC alerta que a inflação pode superar o limite da meta já em junho deste ano, quando a instituição prevê um pico nos preços. Esse cenário ocorre em um contexto de adoção do regime de meta contínua, no qual o descumprimento da meta por seis meses consecutivos exige uma explicação formal ao governo.
Caso a inflação permaneça acima da meta por esse período, o Banco Central será obrigado a enviar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhando as razões do descumprimento. O documento deve conter uma análise aprofundada das causas da inflação elevada, as medidas necessárias para trazer os preços de volta ao intervalo de tolerância e o prazo estimado para que essas ações produzam efeito.
O BC também esclareceu que novas comunicações sobre a meta de inflação só serão feitas caso a inflação continue fora do intervalo estipulado ou se a instituição considerar necessário atualizar suas diretrizes e prazos para o retorno ao controle inflacionário.
Impactos e Perspectivas
A revisão para baixo do crescimento do PIB e a projeção de uma inflação mais alta sugerem que o Banco Central pode manter sua política de juros elevados por um período mais longo do que o inicialmente previsto. Isso pode afetar o consumo das famílias e a tomada de crédito pelas empresas, reduzindo investimentos e impactando o mercado de trabalho.
Por outro lado, especialistas apontam que a desaceleração econômica pode ajudar no controle da inflação, permitindo uma queda gradual nos preços e na taxa de juros no futuro. No entanto, esse processo depende de variáveis como a evolução dos preços internacionais de commodities, a política fiscal do governo federal e a trajetória da economia global.
O cenário de crescimento menor e inflação acima da meta reforça os desafios do Banco Central na condução da política monetária, exigindo equilíbrio entre o controle dos preços e o estímulo à atividade econômica nos próximos meses.