Lesão no LCA no Futebol Feminino: Entenda Por Que Ela É Tão Comum e Como Prevenir

A lesão no LCA no futebol feminino tem preocupado atletas, treinadores e torcedores ao redor do mundo. Nomes importantes como Alexia Putellas, Marta, Vivianne Miedema, Marie-Antoinette Katoto, Angelina, Beth Mead e Lorena sofreram com esse tipo de contusão nos últimos anos. Só nos últimos 12 meses, mais de 20 jogadoras das maiores ligas do mundo enfrentaram esse problema, acendendo um alerta antes de grandes competições como a Copa do Mundo Feminina.

Com o aumento dos casos de lesão no ligamento cruzado anterior entre as mulheres, surge uma pergunta inevitável: por que a lesão no LCA no futebol feminino é tão recorrente? Este artigo explora as causas, os fatores de risco, o impacto na carreira das atletas e as estratégias de prevenção.


O Que é o Ligamento Cruzado Anterior (LCA)?

Antes de tudo, é fundamental entender o que é o ligamento cruzado anterior (LCA). Ele está localizado no interior do joelho e tem um papel essencial na estabilização da articulação. Esse ligamento impede que a tíbia (osso da perna) se desloque em relação ao fêmur, além de controlar movimentos rotacionais do joelho.

Quando ocorre uma lesão no LCA, o joelho perde estabilidade, e a pessoa sente dor intensa, inchaço e dificuldade para apoiar a perna. A recuperação costuma ser longa e exige cirurgia, fisioterapia e acompanhamento multidisciplinar.


Por Que a Lesão no LCA é Mais Comum em Mulheres?

Estudos científicos mostram que a lesão no LCA no futebol feminino é de duas a oito vezes mais comum do que entre homens. No contexto do futebol, as mulheres têm um risco três vezes maior de romper o ligamento. Mas o que está por trás dessa diferença?

1. Diferenças anatômicas

A estrutura corporal feminina é uma das principais razões para esse aumento de risco. O ortopedista Nemi Sabeh, ex-coordenador médico das seleções femininas de futebol, explica que as mulheres possuem uma bacia naturalmente mais larga, o que influencia na mecânica dos movimentos.

Essa largura da bacia afeta o funcionamento do glúteo médio, músculo fundamental para a estabilidade do joelho. Quando a jogadora realiza um movimento que gira o joelho para dentro, esse músculo tem dificuldade de segurar a articulação, facilitando a ocorrência da lesão.

2. Influência hormonal

Além das diferenças físicas, os hormônios também desempenham papel importante. Segundo o médico do esporte Roberto Ranzini, do Hospital Albert Einstein, durante o período pré-ovulatório, os hormônios aumentam a elasticidade dos ligamentos, tornando-os mais suscetíveis a rupturas. Isso cria um “ponto cego” hormonal, no qual a chance de lesão cresce significativamente.


Fatores que Agravam a Lesão no LCA no Futebol Feminino

Apesar de existirem fatores biológicos que aumentam a vulnerabilidade das mulheres, outras questões também contribuem para o crescimento do número de casos de lesão no LCA no futebol feminino, principalmente nos últimos anos.

1. Falta de base sólida no futebol feminino

De acordo com André Pedrinelli, atual chefe do departamento médico das seleções femininas da CBF, muitas jogadoras não desenvolveram um padrão motor eficiente. Isso ocorre porque o futebol feminino teve pouco investimento nas categorias de base durante décadas.

Enquanto jogadores homens já treinam desde os 8 ou 10 anos, muitas mulheres só têm acesso a treinamentos estruturados a partir da adolescência. No Brasil, por exemplo, as ligas sub-16 e sub-18 só começaram a ganhar força nos últimos três anos.

2. Profissionalização recente

Outro fator relevante é o processo recente de profissionalização do futebol feminino. Enquanto o futebol masculino tem uma estrutura organizada desde a década de 2000, o Brasileirão Feminino Série A3 só surgiu em 2022.

Com o aumento do número de jogos, a intensidade dos treinos e o calendário mais apertado, o corpo das atletas é exigido de forma crescente. E, sem a devida preparação ao longo da base, o risco de lesões graves aumenta consideravelmente.


Como Acontece a Lesão no LCA no Futebol Feminino?

A lesão no LCA ocorre, na maioria dos casos, sem contato físico com outro jogador. Ela acontece principalmente em movimentos de mudança brusca de direção, aterrissagem errada após um salto ou parada repentina. Isso torna o futebol uma modalidade de risco elevado para essa contusão.

A jogadora Luíza Travassos, da seleção brasileira sub-20 e da Universidade Marshall, nos Estados Unidos, sofreu a lesão em março, durante um amistoso. Ela contou que, assim que sentiu o joelho, já teve medo de que fosse o LCA, devido à gravidade da lesão.

Luíza foi operada no Brasil e agora encara uma recuperação estimada entre seis a nove meses. Ela destaca o apoio do clube americano, mas admite que o início do processo foi emocionalmente difícil.


Por Que a Recuperação da Lesão no LCA é Tão Longa?

O médico Roberto Ranzini afirma que a cirurgia é quase sempre necessária para atletas de alto rendimento. O procedimento envolve a reconstrução do ligamento rompido com um enxerto retirado de outra parte do joelho.

O grande desafio está na integração e cicatrização do enxerto no local da lesão, o que leva meses. Além da cirurgia, a atleta precisa passar por um longo processo de fisioterapia e fortalecimento muscular antes de retornar aos treinos e jogos.

Durante esse tempo, também é importante trabalhar o lado emocional, já que muitas jogadoras enfrentam frustração e medo de sofrer uma nova lesão.


O Que Está Sendo Feito Para Prevenir a Lesão no LCA no Futebol Feminino?

Infelizmente, ainda não existe um protocolo universal para prevenir a lesão no LCA no futebol feminino. No entanto, diversas iniciativas têm sido implementadas para reduzir os riscos.

1. Programa FIFA 11+

A FIFA criou o programa FIFA 11+, voltado para a prevenção de lesões esportivas. Ele inclui exercícios específicos para melhorar o equilíbrio, a força e o controle motor das atletas.

Esse programa é adotado por diversas seleções e clubes ao redor do mundo e tem mostrado bons resultados na diminuição de lesões em geral.

2. Integração entre clubes e seleções

No Brasil, a comissão técnica da seleção feminina mantém contato constante com os clubes das jogadoras. O objetivo é ajustar a carga de treinos, compartilhar artigos científicos e acompanhar de perto a saúde das atletas.

Segundo Pedrinelli, essa rede de comunicação inclui médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, nutricionistas e psicólogos. A ideia é oferecer suporte integral às atletas, inclusive durante o período menstrual, quando o risco de lesão é maior.


Casos Recentes e Preocupações para a Copa do Mundo Feminina

A goleira Lorena, titular do Grêmio e da seleção brasileira, sofreu um estiramento no LCA em março e ficou fora da Copa do Mundo Feminina 2023. Esse é apenas um entre os muitos casos que preocupam torcedores e comissão técnica.

Com tantas jogadoras afastadas, as equipes precisam pensar não apenas em prevenção, mas também em reabilitação de qualidade. Isso significa usar o tempo de recuperação para corrigir padrões de movimento e evitar reincidências.


O Futuro da Prevenção da Lesão no LCA no Futebol Feminino

À medida que o futebol feminino se torna mais profissional e recebe mais investimentos, espera-se que a incidência da lesão no LCA no futebol feminino diminua. Mais trabalho na base, melhores estruturas médicas e treinamentos adaptados ao corpo feminino são caminhos promissores.

Segundo Pedrinelli, o objetivo é que a atleta consiga desempenhar o máximo de seu potencial, com menor impacto físico e maior longevidade na carreira.


Conclusão

A lesão no LCA no futebol feminino é um desafio real e urgente para atletas, médicos e treinadores. Ela tem causas anatômicas, hormonais, estruturais e sociais, o que torna a prevenção uma tarefa complexa, mas não impossível.

Com mais estudos, mais diálogo entre profissionais e mais investimento na formação de base, o número de lesões pode ser reduzido. E, acima de tudo, as jogadoras terão a oportunidade de brilhar nos campos com segurança, saúde e alto rendimento.

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